Efectivamente, a oração «Quem vive em Lisboa» funciona como sujeito e, como tal, não deveria, à partida, ser separada do respectivo predicado («sabe») por meio de vírgula.
No entanto, em frases como a que nos apresenta, é admissível colocar a vírgula entre as duas orações, para eliminar a ambiguidade resultante da sua ausência – ambiguidade que resulta precisamente do facto de se tratar de duas orações. Consideremos, para compreender melhor este tipo de utilização da vírgula, os três casos seguintes:
1. «Quem sabe, sabe» (em vez de «Quem sabe sabe»).
2. «Quem está mal, muda-se» (em vez de «Quem está mal muda-se»).
3. «Quem tudo quer, tudo perde» (em vez de «Quem tudo quer tudo perde»).
Se nenhuma delas apresentasse a vírgula (entre o sujeito e o predicado, é certo), a interpretação das ideias em causa não seria tão fácil de inferir, pois não seria claro o ponto em que a primeira oração terminaria, levando os leitores a supor que a frase talvez estivesse incompleta. No primeiro caso, para mais, temos a repetição do verbo, o que causaria ainda maior estranheza, se a vírgula estivesse ausente. Além disso, o emprego da vírgula está associado à introdução de pausas no discurso e, nestes casos, a pausa também contribui para clarificar o sentido.
Em suma, na frase que apresenta, não há qualquer obrigatoriedade de colocar a vírgula antes do predicado. Porém, o seu emprego é admissível.