A vírgula colocada antes de ou não é um erro, mas também não se pode dizer que seja obrigatória. Muito depende de se considerar que antes de ou há uma pausa — e esse juízo, pela sua subjetividade, pode variar.
E. Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa (2002, pág. 609) indica que:
[...] [se emprega vírgula] para separar orações coordenativas alternativas (ou, quer, etc), quando proferidas com pausa:
Ele sairá daqui logo, ou eu me desligarei do grupo.
OBSERVAÇÃO: Vigora esta norma quando ou exprimir retificação:
Teve duas fases nossa paixão, ou ligação, ou qualquer outro nome, que eu de nome não curo [...]1
Se denota equivalência, não se separa por vírgula o ou posto entre dois termos: Solteiro ou solitário se prende ao mesmo termo latino.
Nesta ótica, parece de recomendar o uso da vírgula antes de ou na frase apresentada pela consulente, até porque a conjunção liga orações («cada qual fazia ler ou lia a sua» e «a plateia criticava ou criticava eu»), à semelhança do primeiro exemplo de Bechara («Ele sairá daqui logo, ou eu...»). Contudo, na frase de Sebastião da Gama as coordenadas disjuntivas («ou lia sua», «ou criticava eu») não se apresentam como alternativas que excluam o teor das orações com que se coordenam (respetivamente, «cada qual fazia ler» e «e depois a plateia criticava»), antes se configurando uma relação próxima da situação de equivalência («solteiro ou solitário»), que dispensa vírgula. Repito: não acho que este sinal de pontuação seja obrigatório antes de ou na frase em discussão.
No entanto, no intuito de facilitar a leitura da frase, que junta várias orações coordenadas, sugiro uma vírgula antes de e, com base no preceito enunciado por Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1984, pág. 643):
[...] Separam-se geralmente por vírgula as orações coordenadas unidas pela conjunção e, quando têm sujeito diferente:
[...] A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino.
(Fernado Namora, TJ, 23) [...]2
Não obstante, é de notar que Cunha e Cintra se referem a este emprego da vírgula como uma tendência geral, e não como uma regra. Mais uma vez me parece de concluir que existe certa margem de liberdade para dispensar a vírgula antes das conjunções coordenativas e e ou.
1 Abonação de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, 4.ª ed., Garnier, 1899, pág. 52 (ver Abreviatura de Autores de Obras Citadas em E. Bechara, op. cit, págs. 646-657).
2 Referência desenvolvida: Fernando Namora, O Trigo e o Joio, 12.ª ed. Amadora, Bertrand, 1974 (ver Cunha e Cintra, op. cit. pág. 717).