Comecemos por recordar que se considera que a ordem canónica em língua portuguesa é SVO, o que se verifica na frase (1):
(1) «O João adorou este livro.»
Não obstante, o português permite também, entre outras, a ordem OVS, o que implica a inversão do sujeito:
(2) «Deste livro fala o João.»
Se colocarmos o sujeito no final da frase após o objeto, numa ordem VOS, como em (3), situação que exige o uso de vírgula antes do sujeito:
(3) «Adorou este livro, o João.»
Há, todavia, contextos em que o uso da vírgula pode ser dispensável. É o caso das frases copulativas identificadoras nas quais é possível usar a ordem invertida sem necessidade de recurso ao uso da vírgula:
(4) «O professor de português é o João.»
Em frase como (5), o uso da vírgula também é dispensável:
(5) «Queremos este livro todos nós.»
Relativamente à questão que o consulente coloca em primeiro lugar, deveremos começar por afirmar que as construções apresentadas são muito pouco naturais, pelo que seria difícil encontrá-las em situações de uso correntes. Para além disso, visto que os constituintes se encontram ambos na forma singular, são geradores de ambiguidade quando a sua colocação na frase se afasta da ordem canónica. Todavia, se consideramos um contexto de pura análise linguística, diremos que na frase (6), se usarmos a vírgula antes de «o dragão», ela irá sinalizar que este constituinte é o sujeito deslocado, tal como acontece em (7) relativamente a «o homem»:
(6) «Matou o homem, o dragão.»
(6a) «?Matou o homem o dragão.»
(7) «Matou o dragão, o homem.»
(7a) «*Matou, o dragão, o homem.»
Por fim, a frase (6a) gera uma ambiguidade que só o contexto poderá esclarecer, porque não há forma de distinguir o sujeito do complemento. Já a frase (7a) à partida não é aceitável porque não se coloca o complemento direto entre vírgulas quando ele se encontra na posição canónica.
Quanto à questão apresentada em segundo lugar, a frase (8) deve levar vírgula para identificar a anteposição do complemento direto:
(8) «O dragão, o homem matou.»
A frase (9) é de evitar porque gera ambiguidade, uma vez que a ordem dos constituintes e a vírgula que isola o constituinte «o dragão» podem ser identificadas como sinalizadoras de um segmento com função apositiva:
(9) «?O homem, o dragão, matou.»
Disponha sempre!
Nota: Para uma melhor compreensão dos contextos de alteração da ordem canónica e das motivações semântico-pragmáticas que os justificam, leia-se o seguinte artigo, Ana Maria Martins & João Costa (2016). Ordem dos constituintes frásicos: sujeitos invertidos, objetos antepostos. In: Ana Maria Martins & Ernestina Carrilho (eds.), Manual de Linguística Portuguesa. Berlin/Boston: De Gruyter. 371-400 (disponível aqui)