Diz Vasco Teixeira, da Porto Editora, citado no "Público", que os brasileiros têm um problema. Que problema? Terem um mercado interno de mais de 188 milhões, crescentemente alfabetizado? Terem maior protagonismo mundial e por isso ser mais interessante para os países africanos adoptar essa norma ortográfica?
Para Vasco Graça Moura, o acordo é «catastrófico no plano científico, económico e geoestratégico». Desde quando a ortografia é uma ciência? Basta ler o título acima para se perceber o que é – mera convenção. E, dado que o Brasil não grafa consoantes mudas, o que se passa? V.G.M. acha que os brasileiros escrevem mal o português?
Para V.G.M., o sucesso da edição portuguesa está assente em "cês" e "pês" mudos, ao que parece. Que português deixou de ler Jorge Amado porque não tem "cês" e "pês" mudos? Que brasileiro desistiu de ler Agualusa por não aguentar mais aqueles "cês" e "pês"? Espero que nas cabeças dos editores andem ideias mais desempoeiradas.
E a estratégia da língua portuguesa no mundo é defender o monopólio de venda de livros escolares a países que se estão a tentar erguer dos escombros? Para V.G.M., se o Brasil enviar também os seus livros será uma «catástrofe geoestratégica», por isso toca a meter a lusofonia na gaveta: «Desculpem caros senhores, mas estes países são do "nosso" português, para aqui o Brasil não é chamado. Não é por interesse económico, nããão, é que vocês não sabem escrever português.» Esta concepção de «catástrofe geoestratégica» tem um nome: co-lo-nia-lis-mo. Bafiento.
*in Público, secção "Cartas ao Director", de 11 de Dezembro de 2007