Finalmente,depois de uma espera de 17 anos, e de uma das maiores controvérsias culturais que já se fizeram (nenhum problema de educação foi tanto e tão apaixonadamente discutido na praça pública…), o Acordo Ortográfico vai ser posto em prática, mesmo com dez anos de arrastamento, para ser efectivo!
Como sempre tem acontecido em todas as reformas ortográficas, a endémica controvérsia continuará em favor de alguns "brilharetes", até porque continuará incurável a falsa convicção de que alterar a ortografia é alterar a língua.
Os especialistas da língua (que não são só os linguistas) sabem que só na "língua natural" (sem escrita), de um pequeno território, onde quase toda a gente se encontra ou pode encontrar em eventos comuns, é que é possível haver homogeneidade de pronúncia,vocabulário,etc., até porque essa língua, sustentada só pela memória, não vai além de 3000/4000 vocábulos, de pouca capacidade de abstracção.
Muito diferente é a situação de uma língua escrita, sobretudo se for uma moderna língua de cultura, como o português ou o inglês, línguas de impérios, de muitas e variadas culturas, hábitos fonológicos, léxicos de mais de 400 000 vocábulos, língua de comunicação internacional, de ciência, de religiões, em permanente acréscimo de linguagem técnica, enriquecida por variantes nacionais prestigiadas faladas por centenas de milhões de pessoas de vários continentes. Se já os nossos gramáticos do século XVI registavam diferenças de pronúncia e vocabulário entre o Norte e o Sul do país, que dizer do actual imenso território lusófono?
É por isso que são indispensáveis os acordos ortográficos, porque ortografia é fixação gráfica convencional das palavras, respeitando as pronúncias, vocabulário, estilo, modismos das diversas variantes nacionais e regionais.
Não é convencionalismo arbitrário, porque procura respeitar a etimologia, a história, a fonologia possível, e é tanto mais aceitável quanto foi o Acordo aprovado por unanimidade pelos países lusófonos, em 1986, e, posteriormente, ajustado em algumas pequenas questões, sobretudo de exequibilidade.
Portugal já não é, nem quer ser, dono da língua comum, mas, simplesmente, um dos seus oito condóminos.
A língua portuguesa e a lusofonia merecem que o Acordo entre, quanto antes, em vigor.
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Editorial do n.º 20 do Boletim Informativo da Associação de Cultura Lusófona (Aclus), de Dezembro de 2007