Desde há muito, se é que alguma vez foi, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa deixou de ser um problema de mera linguística, para tornar-se um problema essencialmente politico (e geostratégico), e isto para além da sentença tida como axiomática no âmbito da Ciência Política, segundo a qual a «Política não é tudo, mas tudo é político, a começar por aquilo e aqueles que pretendem não sê-lo». Na hora de todas as emergentes "globalizações" (as económicas e as societais, as ortodoxas e as outras), a questão das línguas aparece muito mais vasta e muito mais complexa do que a "simples" questão técnico-linguística…
Ainda não se entendeu que é a também emergente "Hora da Lusofonia" (Lusofonia que vai muito para além da "questão linguística" e até da questão da língua…) que colocou na ordem do dia a questão do Acordo Ortográfico e que será o Brasil (com ou sem companhia, mas esperemos com a companhia de todos os Países e Povos Lusófonos, sem a auto-exclusão de Portugal, por ultrapassadas razões patrioteiras e quejandas), no seu lugar e papel de grande potência no mundo globalizado de amanhã que imporá, connosco ou "sem-nosco" como alguns já desacordada e humoristicamente disseram, a existência do que se chama o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa?
A presente Semana Sociológica, na linha das suas multivariadas mas todas sociológicas temáticas anteriores, quer abordar, da maneira mais frontal e aberta, a temática da Língua Portuguesa e, especificamente, a temática do Acordo Ortográfico, como questão essencialmente política e geoestratégica nesta "Hora Global" que não pode deixar de ser também a "Hora da Lusofonia", que até poderia fornecer um excelente exemplo de uma bem sucedida "Globalização".
E que lugar mais adequado para tal reflexão que a cidade do Porto, onde não só, Camões dixit, «como é fama, origem teve o nome eterno de Portugal« mas em cuja região, que é a região europeia do Noroeste da Península Ibérica, como às vezes parece ser menos fama, origem também teve a sem dúvida ainda mais eterna "Língua Portuguesa", a qual, como disse o outro Camões que foi Fernando Pessoa, é uma das pouquíssimas línguas potencialmente universais do século XXI!
Obviamente com uma ortografia, mesmo se, também obviamente, plural, e com ou sem os portugueses, mas, neste último caso, para mal, vergonha e desgraça de todos os que, com o denominado síndroma salazarista de Badajoz, continuarão a dar razão às tristemente célebres atitudes e palavras do ditador "orgulhosamente só"!
E é uma coincidência feliz tratarmos do Acordo Ortográfico enquanto o mundo lusófono comemora os 400 anos do nascimento de Pe. António Vieira, cuja ecuménica "palavra e utopia" (que tão bem registou Manoel de Oliveira no seu filme com esse título) poderá continuar a inspirar-nos para ultrapassar os bloqueios institucionais e outros às legitimas aspirações de todos os Países e Povos do Espaço Lusófono e da Humanidade!
Comunicação lida na XIV Semana Sociológica da Universidade Lusófona do Porto.