1. Instala-se novamente a preocupação em Portugal: a variante delta do coronavírus propaga-se, e a capital com outras cidades travam o desconfinamento. Reflexo deste cenário são as quinze novas entradas na rubrica A covid-19 na língua, nelas ressaltando as denominações das variantes virais: alpha, beta, delta plus, gamma, kappa, termos decorrentes da recente utilização distintiva do «alfabeto grego». Registam-se «variabilidade genética», em referência à mutabilidade viral, e a repartição que é marcada por «variantes de interesse» e «variantes de preocupação», a que se somam as designações da reação contra a pandemia: «desconfinamento travado» e «acelerador ao fundo» (na vacinação). Completam a atualização as expressões «estabelecimentos de ensino», «faixas etárias», Imune.pt (ver também aqui) e riqueza.
2. São seis as novas respostas do Consultório, indo da variação da locução «como se» até ao valor referencial do pronome ele e passando pela sintaxe de «ter lugar» e do verbo barrar, pelo conceito de genitivo e pelo emprego dos vocábulos dilogia e díptico.
3. No Pelourinho, um apontamento do jornalista José Mário Costa mostra como o caso do envolvimento da Câmara Municipal de Lisboa na divulgação dos dados pessoais dos promotores de uma manifestação de ativistas russos é oportunidade para momentos linguísticos nada felizes: por exemplo, o recurso a um insulto trovejante, escrito com toda a incompetência.
4. Na Montra de Livros, apresenta-se Transversalidade XI: géneros textuais e comunicação oral e escrita nos primeiros anos, uma publicação digital do Laboratório de Investigação em Educação em Português, da Universidade de Aveiro (disponível aqui).
5. A data de 28 de junho é a do Dia Internacional do Orgulho Gay, num ano marcado também pela discussão das questões de género. O clima é de confronto, e sintomáticas são as recentes decisões políticas na Hungria contra a abordagem do tema da homossexualidade nas escolas, bem como a polémica reativa na Alemanha, por causa da iluminação arco-íris do estádio de Munique, no contexto do campeonato da UEFA (ler também aqui). No Ciberdúvidas, desde os seus primeiros anos, arquivam-se respostas e artigos, documentando a evolução do tema: "Homossexual ou 'gay'", "'Casal gay' ou 'par gay'»?, "Sobre a palavra transgénero", "O uso de transgénero no plural", "A grafia e a pronúncia de transexual", "Arco-íris". Sobre dias comemorativos, recorde-se que estes se escrevem com maiúsculas iniciais (cf. Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, Base XIX, 2), preceito que abrange as siglas (ibidem), incluindo as que, para o caso, são relevantes:
- LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero).
- LGBTI (juntando à sigla anterior o termo intersexo).
- LGBTIQ (com o acrescento da letra Q, de queer, em inglês, ou de questionamento, em português, identificando as pessoas que se encontram em questionamento sobre a sua orientação sexual ou identidade de género).
- LGBTQIA (a letra A para designação das pessoas assexuais, agéneras, arromânticas, ou ainda com uso controverso, para pessoas e locais considerados aliados).
- LGBTQIAP (o P de pansexual, i.e., pessoas com atração sexual ou romântica por qualquer sexo ou identidade de género).
- LGBTQIAPN+ (o N de pessoas não-binárias).
6. No campo da formação e reflexão à volta da língua portuguesa, mencione-se, entre a oferta da Universidade Aberta, um curso aberto sobre Fernando Pessoa, o poeta da multiplicidade heteronímica. E, noutro plano, se a diversidade é também característica do português contemporâneo, como integrá-la numa perspetiva de unidade? As investigadoras Rosa Maria Faneca (CIDTFF, Universidade de Aveiro) e Felícia Jennings-Winterle (Plurall by BeM) apontam caminhos.no artigo de opinião "(H)À Educação: O português como língua pluricêntrica".
7. Um caminho para a convivência é também procurado nos territórios onde o português se usa a par de línguas locais. Na Terra de Miranda, no canto nordeste de Portugal, a Associação da Língua e Cultura Mirandesas acaba de lançar o documento Carreirones pa la Nuossa Lhéngua (em português, Roteiro para a Nossa Língua), definindo uma estratégia de recuperação do mirandês, após séculos de contacto com o português. Em Angola, dão-se passos para a revitalização do umbundo na atribuição dos nomes de pessoa (antropónimos) com a publicação de Desprezo ao Apreço do Nome: Estudo Etnolinguístico da Antroponímia Umbundu, da autoria de Bonifácio Tchimboto e Ana Maria Katemo Ucuahamba.
8. Conteúdos que a rádio pública portuguesa dedica à língua portuguesa:
– entre os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, são temas de relevo o português como língua adicional, em Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 25/06, pelas 13h20; repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00), e a personalidade e a obra de Eduardo Mayone Dias (1927-2021), em Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 27/06, 12h30; com repetição no sábado seguinte, 03/07, às 15h30);
– em Palavras Cruzadas, programa de Dalila Carvalho*, três temas para três dias de emissão (de 28 a 30 de junho, às 09h50 e 18h20): o léxico pós-covid-19, a verdade na comunicação da doença oncológica e o ponto abreviativo na revisão de texto.
* Hora oficial de Portugal continental.
9. Como é habitual, coincidindo com o final do ano letivo – este ano mais prolongado devido à pandemia –, o Ciberdúvidas fará, até começos de setembro, uma pausa no esclarecimento de questões* e nas suas atualizações regulares. A próxima abertura, marcada para segunda-feira, 28 de junho p. f., dará pormenores sobre o funcionamento destas páginas nas semanas estivais de julho e agosto.
* O envio de dúvidas fica desativado a partir deste dia, até 1 de setembro.