1. A 18 de março de 2020 era decretado em Portugal o primeiro estado de emergência e, com ele, veio o primeiro período de confinamento. A evolução da situação sanitária marcou também o início de uma intensa atividade lexical que trouxe inúmeras palavras, novas ou recuperadas, para os usos do quotidiano e cujos sentidos importava esclarecer. Assim foi nascendo o projeto A covid-19 na língua, que, desde então, tem acompanhado atentamento o evoluir da realidade lexical, registando novos termos e expressões que vão sendo mobilizados a propósito da situação pandémica no mundo da lusofonia. No momento atual, vive-se em Portugal um processo gradual de desconfinamento e, mais uma vez, o léxico não fica indiferente à realidade. Entre as medidas restritivas associadas ao desconfinamento gradual, os portugueses podem contar com «[uma] Páscoa confinada». Assim o exige o princípio da precaução para que as consequência do Natal de 2020 não voltem a ter lugar. Entretanto, aposta-se tudo na «efetividade vacinal» e na sua eficácia, apesar do contratempo trazido pela «AstraZeneca em pausa», devido aos problemas de saúde que eventualmente pode desencadear. Caso de sucesso é a Ilha do Corvo, no arquipélago dos Açores, cuja população já se encontra toda vacinada. Entretanto, as escolas começam também a abrir faseadamente e os professores, que vão dividindo as suas atividades entre «aulas presenciais + à distância», veem os esforços que desenvolveram para assegurar as aprendizagens dos seus alunos serem reconhecidos por campanhas como «Querida professora...», da Associação Portuguesa de Futebol, ou da Vodafone Portugal. Os sete termos destacados atrás incluem a atualização de O Léxico da Covid-19 e a eles se juntam outras nove novas entradas: agente etiológico, área endémica, cadeia de frio, café ao postigo, caos sanitário, etiologia, foquinha, nsp14 e vacinas a mais, vacinas a menos.
2. São comuns as funções sintáticas de predicativo do sujeito e de predicativo do complemento direto, esta última considerada uma predicação secundária. Na nova atualização do Consultório, avalia-se se a predicação secundária existente em «Não gosta de sair com as filhas enfeitadas» terá alguma semelhança com as anteriores. E ainda: o determinante que acompanha a sigla SS deve surgir no singular ou no plural? Qual a forma correta do verbo: esgaravatar ou esgravatar? Que diferenças existem entre participativo, participante e participado? O que significa o símbolo ò usado nos dicionários? Qual o recurso expressivo presente no verso «chegar antes de ti para te ver chegar», de um poema de Nuno Júdice?
3. O termo bazuca entrou recentemente no léxico do quotidiano por ter sido recuperado para referir o plano de recuperação económica, da responsabilidade da União Europeia. Todavia, este nome comum tem uma longa história, que vai da música ao arsenal militar, como nos conta a colaboradora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques, na sua crónica divulgada no programa Páginas de Português, da Antena 2 (aqui transcrita).
4. A palavra vacina tem estado na ordem do dia, surgindo na comunicação social associada a diferentes pronúncias, ora com "a fechado" ora com "a aberto átono", que se ficam a dever às diferentes origens regionais dos falantes. Com se explicou aqui, a pronúncia com "a aberto" é típica em falantes oriundos da região norte e não pode ser considerada incorreta. Todavia, ouvidos menos habituados a este confronto de variantes fonológicas regionais continuam a manifestar a sua estranheza, como se observa neste apontamento transcrito, com a devida vénia, na rubrica Controvérsias.
5. A questão da discriminação por intermédio da linguagem é um assunto de grande atualidade, que tem sido debatido em diversos setores da sociedade, o que tem dado origem a propostas de natureza diversa. Desta feita, é a Universidade de Manchester que vem propor um novo "livro de estilo" que procura evitar uma linguagem que promova a discriminação de género ou a discriminação relacionada com a orientação sexual, a idade ou algumas situações laborais. A discussão está lançada (artigo originalmente publicado no jornal Observador, aqui transcrito, com a devida vénia).
6. Entre as notícias relacionadas com a língua portuguesa, destaque para:
— A realização do webinário «Professor, tira-me esta dúvida de gramática?», orientado pela professora Carla Marques, que poderá ser (re)visto aqui;
— O desenvolvimento de um conjunto de atividades conducentes à preparação do Dicionário de Português de Moçambique (DiPoMo) (ver notícia);
— O lançamento do projeto "Canções para abreviar distâncias: uma viagem pela língua portuguesa", dos músicos Isabella Bretz, Rodrigo Lana e Matheus Félix, que inclui oito poemas musicados, cada um de um país falante do português;
— A realização do curso de crítica literária O cânone - Dez lições de literatura portuguesa, promovido pela Fundação Cupertino de Miranda (mais informação aqui);
— A abertura do período de submissão de resumos para o 14.º Encontro Nacional da Associação de Professores de Português, com lugar em Chaves, em 9 e 10 de julho de 2021, subordinada ao tema «Português: avaliação na aprendizagem».
7. Entre as efemérides assinaladas por estes dias, destaque para:
— Os 60 anos do início da guerra colonial, com os ataques da UPA (União das Populações de Angola) no norte de Angola, em 16 e março de 1961;
A este propósito recordem-se algumas publicações do Ciberdúvidas: «Governo de Angola», «A língua portuguesa em Angola», «O português em Angola», «A ortografia em Angola», «Língua e segurança nacional em Angola», «Angola, variantes da comum língua», «Português de Angola: uma variante carente de registos e legislação», «Português, língua nacional angolana -2».
— O 150 anos da Comuna de Paris, a insurreição popular que ficou para a História com o primeiro governo de caráter popular no mundo.
Cf. «Vermelho / encarnado», «A classificação «de Paris» na frase «Cheguei de Paris» (nova terminologia)»; «A tradução do francês arrondissement» e «O aportuguesamento de nomes das regiões francesas».
— A constituição, em Portugal, no dia 18 de março de 1911, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, a partir do Arquivo Real, com origem em 1378.