«(...)Se os autores rejeitam a linguagem que pode ser discriminadora em relação à identidade de género e orientação sexual, também não a aceitam em relação à idade e pedem que se evite termos como idosos, pensionistas ou jovens.(...)»
Em nome da igualdade e inclusão, a Universidade de Manchester, no Reino Unido, baniu algumas palavras do vocabulário dos funcionários sempre que tenham de falar em nome da instituição. Entre elas estão mãe e pai, a forma como se referem a doentes com cancro ou demência e, sempre que possível, referências à idade, destaca a revista The Spectator.
O guião foi incluído no Livro de estilo da instituição, que define como as palavras devem ser escritas ou em que situações se usam maiúsculas, por exemplo.
«A forma como escrevemos para e sobre as pessoas pode ajudar a promover a igualdade, diversidade e inclusão, e fornecer o mesmo tipo de oportunidades para todos», escrevem os autores do guião, cujo objetivo é não excluir certos grupos com base na idade, raça, etnia, incapacidade, género ou orientação sexual.»
No capítulo do «sexo e identidade de género», os autores pretendem abolir todas as definições binárias, como mulher/homem por pessoa, senhoras/senhores por toda a gente, mas também mãe/pai por progenitor ou guardião (que em português tem os dois géneros), mulher/marido por companheiro/a (que também tem dois géneros em português) ou irmã/irmão por sibling (cuja tradução em português é irmã ou irmão).
Além disso, são propostas alternativas a palavras que usam man («homem», em português) ou woman («mulher») como prefixo ou sufixo: mankind por humankind (humanidade), manpower (mão de obra) por workpower (força de trabalho), policeman/police woman por police officer (polícia, palavra que não têm géneros distintos em português).
Se os autores rejeitam a linguagem que pode ser discriminadora em relação à identidade de género e orientação sexual, também não a aceitam em relação à idade e pedem que se evite termos como idosos, pensionistas ou jovens. Em vez disso, apoiam o uso de termos mais objetivos ou os intervalos de idades: acima dos 65 anos ou adolescentes (entre os 13 e os 19 anos), por exemplo.
«Inclua a idade apenas se for relevante, por exemplo, com iniciativas que estão disponíveis apenas para uma determinada faixa etária», lê-se no guião. «Não use a idade como meio de descrever um indivíduo ou grupo onde não é relevante, como ‘força de trabalho madura’ ou ‘equipa jovem e vibrante.»
Dentro das incapacidades ou condições de saúde, os autores preferem «usar linguagem que se foque nas capacidades e não nas limitações». Entre as regras estão: «pessoa com deficiência» em vez de “deficiente”, «pessoa que vive com cancro» em vez de «pessoa que sofre de cancro» ou «pessoa com diabetes» em vez de “diabético”. «Vítima de demência» também é uma expressão banida.
Outras sugestões serão, por ventura, mais consensuais, como a rejeição da discriminação étnica ou racial e religiosa. Neste caso, é promovido o uso de maiúsculas nas referências a asiáticos, negros ou brancos (mas nunca caucasianos), por exemplo, ou nas referências a religiões e grupos religiosos. Quantos aos crentes, os autores rejeitam o uso de muçulmanos ou judeus e defendem expressões de comunidade, como «comunidade muçulmana».
Cf. A polémica expressão «pessoas que menstruam» + Nem todas as pessoas que menstruam são mulheres + “Mulher” é pouco inclusivo. E que tal “pessoa com vagina”?
Notícia publicado no jornal digital Observador em 11 de março de 2021.