1. É possível tratar uma interjeição como se fosse um nome? Claro, e o caso de ai, que exprime dor («ai!», «ai de mim!») ou ameaça («ai de ti!»), tem exemplos de usos nominais, sobretudo idiomáticos:«num ai» (= «num instante»), «dar ais» ou «pôr-se aos ais» (= «queixar-se, lamentar-se, gritar») e «sem ai nem ui». Este é um dos tópicos abordados no Consultório, onde – sem ais nem uis, para aproveitar o mote – se enfrentam outras dúvidas: o que é que as conjunções podem juntar numa frase? Como se analisam frases semelhantes a «ele referiu como se apaixonou»? «Trabalho duro» e «trabalho árduo» são compostos? Que significado tem o pronome me em «roubaram-me os sapatos»? E será que se pode dizer que uma empresa ou um edifício têm idade?
2. «Última flor do Lácio, inculta e bela» – assim se apelida frequentemente a língua portuguesa. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se um ensaio do investigador Everaldo Augusto, que evoca o poeta Olavo Bilac, autor desse famoso verso, o primeiro de poema Língua Portuguesa, traçando um paralelo com o cantor e compositor Caetano Veloso e a sua canção intitulada Língua.
3. Ainda na esteira das considerações polémicas que, sobre o cabo-verdiano, o jornalista João Miguel Tavares fez nas comemorações do 10 de Junho, Dia de Camões (ver ponto 3 da Abertura de 11/06/2019), importa sublinhar que a questão do bilinguismo e diglossia de Cabo Verde é já antiga e tem motivado propostas e ações (mesmo em Portugal, que acolhe uma importante comunidade cabo-verdiana). Vem, portanto, a propósito lembrar a iniciativa que, em 21/02/2019, Dia Internacional da Língua Materna, o Governo da cidade da Praia tomou no sentido da «classificação imediata» do crioulo como património nacional, conforme registou o portal cabo-verdiano SAPO Muzika/Inforpress na mesma data, numa peça que a rubrica Diversidades agora reproduz com a devida vénia.
Apesar das dificuldades, os crioulos cabo-verdianos encontram-se em processo de normativização, como é o caso da sua escrita, para qual se dispõe do oficilamente reconhecido Alfabeto Unificado para a Escrita do Cabo-Verdiano. Em Portugal, é conhecida a experiência de ensino bilingue que resultou de um projeto desenvolvido pela professora Ana Josefa Cardoso no Agrupamento de Escolas do Vale da Amoreira (Moita, Setúbal). Sobre a tradição linguística de Cabo Verde, consultem-se, no Ciberdúvidas, "As línguas crioulas de Cabo Verde e Guiné", "Bilinguismo cabo-verdiano", "A situação linguística de Cabo Verde", "Línguas crioulas" e "Diglossia".
4. Entretanto, no corrente ano, coincide o dia 20 de junho com a celebração do Corpo de Deus, feriado religioso também conhecido pelo nome latino de Corpus Christi. É uma data importante no mundo católico, que repetidas vezes foi tratada literariamente, por exemplo, na visão muito crítica do Memorial do Convento, de José Saramago (1922-2010): «[...] condene-me Deus se não declarar que melhor vestem as bestas do que os homens que as vêem passar, e isto é sendo o Corpo de Deus, trouxe cada um no seu próprio corpo o que de melhor tinha em casa, a roupinha de ver ao Senhor, que tendo-nos feito nus só vestidos nos admite à sua presença, vá lá a gente entender este deus ou a religião que lhe fizeram [...].» Relacionadas com esta temática, leiam-se as respostas seguintes: "'Amar a Deus', 'ver a Deus', etc.", "Razão do uso de Deus sem artigo", "As palavras Deus, Anjo e Alma" e "A história e o significado da expressão XPTO","Quinta-Feira Maior".
5. Falando do ensino não universitário em Portugal, para os muitos professores, alunos e famílias que nos seguem, registe-se a publicação do calendário escolar: as aulas começam entre 10 e 13 de setembro p.f. e acabam entre 5 e 19 de junho de 2020 (sobre pausas letivas e outra informação, ler o Despacho n.º 5754-A/2019).
6. A respeito dos programas de rádio produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:
– O Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, 21/06/2019 (depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15), dá destaque aos exames finais em Portugal, concretamente, aos do 9.º ano e do 12,º anos de Português Língua Não Materna, que são analisados criticamente pelo nosso colaborador Carlos Rocha.
– No Páginas de Português, transmitido pela Antena 2 no domingo, 23/06/209 (às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 24 de junho, às 15h30*), foca a nova plataforma em linha de aprendizagem do ensino do português para estrangeiros O Meu Português desenvolvida pela Faculdade de Letras. O nível A1, disponível desde janeiro de 2019, inclui aulas teóricas, práticas, tutoriais, testes e respetivas soluções. A professora Nélia Alexandre, coordenadora dos cursos, faz uma apresentação das características pedagógicas e das valências tecnológicas da plataforma. Ainda neste programa a nossa colaboradora permanente, Carla Marques, faz um apontamento crítico do exame nacional de Português do 12. º ano.
* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.