Os verbos amar, ver e conhecer regem normalmente complemento (objecto) directo. Exemplo: «Eu amo os meus filhos», «Eu gosto de vê-los com saúde» e «Conheço-os bem».
Existem muitas expressões em que «Deus» é complemento indirecto, como, por exemplo, «Eu peço a Deus», «Eu rogo a Deus». Há casos em que podemos usar ou não o complemento objecto directo. Exemplo: «Eu rezo (uma oração) a Deus.» Nesta evolução, chegamos a um ponto em que a preposição já não indica o complemento (objecto) indirecto, mas a distância reverencial: assim como se diz «Eu oro a Deus», constrói-se a frase «Eu amo a Deus», etc.
No caso de «Eu amo a Deus», bem como nos casos semelhantes, «Deus» é complemento (objecto) direc(to), como podemos ver no seguinte contexto: «Eu vejo a Deus, eu conheço-O.»
O objecto directo preposicionado é mais frequente quando se emprega a palavra Deus, mas não se limita a este caso. Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, págs. 418/419) identifica as seguintes situações de uso:
«a) Quando se trata de pornome oblíquo tônico (uso hoje obrigatório):
"Nem ele entende a nós, nem nós a ele" [Os Lusíadas, V, 28]
b) quando, principalmente nos verbos que exprimem sentimentos ou manifestações de sentimento, se deseja encarecer a pessoa ou ser personificado a quem a ação verbal se dirige ou favorece:
Amar a Deus sobre todas as coisas.
Consolou aos amigos.
c) quando se deseja evitar confusão de sentido, principalmente quando ocorre:
1) inversão (o objeto direto vem antes do sujeito):
A Abel matou Caim.
2) Comparação:
"Isto causou estranheza e cuidados ao amorável Sarmento, que prezava Calisto como a filho" [Camilo Castelo Branco, A Queda de Um Anjo]
d) na expressão da reciprocidade: um ao outro, uns aos outros:
Conhecem-se uns aos outros.
e) com o pronome relativo quem:
Conheci a pessoa a quem admiras.
f) nas construções paralelas com pronomes oblíquos (átonos ou tônicos) do tipo:
"Mas engana-se contando com os falsos que nos cercam. Conheço-os, e aos leais" [Alexandre Herculano, O Bobo]
g) nas construções de objeto direto pleonástico, sem que constitua norma obrigatória:
"Ao ingrato, ou não o sirvo, porque (para que) me não magoe" [Rodrigues Lobo].»