1. A dicionarização das palavras é um processo que, muito frequentemente, começa com o aparecimento de um neologismo na língua, que vai sendo integrado gradualmente no léxico. A sua generalização e a frequência de usos podem levar à conversão da palavra num verbete de dicionário. Alguns destes neologismos podem resultar de uma tentativa de tradução de uma palavra estrangeira, o que nem sempre é um processo fácil ou de aceitação generalizada entre os falantes. Exemplo disso é a forma "Euromaidã", uma proposta de tradução do forma romanizada "Euromaidan" e que refere uma onda de manifestações nacionalistas e de agitação civil que tiveram lugar na Ucrânia, em 2013, exigindo maior integração europeia e o fim da corrupção política. A reflexão em torno destas questões dá o mote a uma das respostas da nova atualização do Consultório, onde se abordam também as questões «As sílabas métricas de têm e vêm», «Ter mais que fazer» e «ter mais o que fazer», «A todos os níveis» e «A paráfrase».
Primeira e segunda imagens: manifestantes do Euromaidan, em 2013, na Ucrânia.
2. A situação relacionada com as infeções pelo novo coronavírus mantém uma rota de evolução e transformação. Por essa razão, permanece um assunto de atualidade presente no panorama da comunicação social, o que continua a dinamizar o léxico mobilizado. Continuamos, assim, a acompanhar este processo, introduzindo no glossário A covid-19 na língua, as palavras atividade viral, carga viral, coronavírus humano, estirpe, "glamping" e linhagem.
3. As mudanças trazidas pela crise sanitária e pelo confinamento a que a pandemia obrigou tiveram repercussões em vários domínios, nomeadamente no trabalho e no sistema de ensino, que passaram a privilegiar formas de concretização à distância. No caso da aprendizagem, há quem veja no desenvolvimento de metodologias assentes no conceito de ensino à distância uma nova oportunidade, sobretudo no que ao ensino superior diz respeito. O investigador José Vicente considera que se trata de «uma história de sucesso do confinamento», num artigo divulgado originalmente no jornal Público, aqui transcrito com a devida vénia.
4. Recentemente diversos escritores portugueses foram homenageados com a atribuição de prémios:
— O cardeal, poeta e teólogo José Tolentino Mendonça, galardoado com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva 2020, pelo seu papel de divulgador da cultura e dos valores europeus (notícia aqui, assim como a sua intervenção no último Dia de Portugal, 10 de Junho e este artigo, publicado no semanário Expresso do dia 20 de abril de 2020: Honra os teus velhos);
Recordem-se os textos do autor, divulgados no Ciberdúvidas: «O ruído que se faz a voar» e «João e Maria».
— O escritor Mário de Carvalho, contemplado com o Grande Prémio de Crónica e Dispersos, da Associação Portuguesa de Escritores, com o livro O que eu ouvi na barricada das maçãs (notícia aqui e aqui);
O Ciberdúvidas divulgou os seguintes textos de Mário de Carvalho: «Fervedouro dos desacertos e desconcórdias», «Checando anomalias no aparato», «A propósito de erros».
— O poeta e ensaísta Fernando Guimarães, vencedor do Grande Prémio Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pela sua obra Junto à Pedra.
5. O dicionário em linha Priberam foi, segundo um estudo da Marktest em parceria com a Gemius, o sítio não noticioso mais consultado, em Portugal, em maio de 2020, um resultado que os responsáveis atribuem à situação de confinamento vivida pelos portugueses.
6. Entre as atividades culturais relacionadas com a língua, destacamos:
— As comemorações dos 100 anos do dramaturgo português Bernardo Santareno, que tiveram início em janeiro e que se prolongarão até ao final do ano (calendarização global dos eventos e notícia);
— O Festival Internacional das Artes da Língua Portuguesa (FestLip), uma edição totalmente em linha, que reúne diversos eventos de 18 a 23 de junho: música, teatro, debates. Os conteúdos são transmitidos em sinal aberto nos canais do Facebook e do Youtube do evento (notícia).
7. Os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa centram-se, nesta semana, no racismo na língua, em aspetos do funcionamento gramatical do português e nas figuras de Padre António Vieira e de Aristides de Sousa Mendes (mais pormenores aqui).