Relativamente aos actos ilocutórios, aconselho-o a consultar a resposta
Acto de fala e acto ilocutório. Devo reconhecer, antes de prosseguir, que a semântica frásica não é a matéria em que me sinto mais segura. Tentarei responder interpretando não só a base de dados que apoia a TLEBS, mas também outros documentos. Alguns exemplos e as citações são retirados da base de dados.
O tempo e o aspecto são elementos que ajudam a construir um texto ancorado em pontos de referência temporais e aspectuais. Esse ponto de referência associa-se ao tempo da enunciação e, assim, poderemos identificar num texto (ou aplicar se formos os autores) os valores temporais de simultaneidade – se o que escrevemos se situa no mesmo tempo que lhe serve de ponto de referência –, de anterioridade e de posterioridade – se a situação descrita não coincide com o tempo da enunciação.
A par tempo, a partir do qual é possível localizar as situações, ocorre, já o disse, o aspecto, que permite identificar de que forma é perspectivada um dada situação e que, se hierarquizarmos os elementos descritos na base de dados de apoio à TLEBS, surge dividido em dois grandes grupos:
I – Aspecto lexical, que classifica as expressões predicativas (tendo em conta as características lexicais dos respectivos verbos), em:
a) eventos (chegar, atingir, nascer, morrer, almoçar, pintar, etc.) – actividades dinâmicas que têm um fim delimitado, que pode ser instantâneo («O João chegou cedo») ou prolongado («O João leu o livro em duas horas»).
b) actividades (nadar, correr, ler, dormir) – situações dinâmicas de que não se indica o princípio nem o fim («O João foi nadar»).
c) estados – situações não dinâmicas que não têm princípio nem fim («O João está doente»; «A Joana gosta de maçãs»).
II – Aspecto gramatical relacionado com a flexão dos verbos e com a construção de locuções verbais. Há dois aspectos gramaticais fundamentais ou básicos:
a) perfectivo, cujo ponto de referência não coincide com o tempo da enunciação. Descreve eventos pontuais que se situam no passado (anterioridade) («A Maria leu o livro» = «o livro está lido») ou no futuro (posterioridade) («A Maria vai ler o livro esta tarde» = «no final da tarde o livro estará lido»).
b) imperfectivo, cujo ponto de referência coincide com o tempo da enunciação e que descreve eventos, actividades ou estados prolongados. As situações enunciadas podem ter valor de simultaneidade («O João está a ler um livro»), de anterioridade («A Maria leu [= aprendeu a ler] em 15 dias») ou de posterioridade («A Maria vai estudar com uma colega»).
Para além destes valores, as predicações podem ainda veicular outros associáveis:
i) à quantificação da predicação, e teremos três valores distintos:
1 – genérico se «refere uma pluralidade infinita de situações, construídas como atemporais e verdadeiras, em toda e qualquer situação de enunciação («Todo o homem é mortal»).
2 – <uhabitual< u=""> quando refere uma pluralidade teoricamente infinita de situações que se sucedem durante um período construído como ilimitado («O João joga futebol aos domingos»). O valor habitual associa-se ao valor imperfectivo e ao valor iterativo, que veremos abaixo.
3 – iterativo se refere eventos que se repetem tanto num período de tempo delimitado («No mês passado tive exames todas as semanas») ou não delimitado («Vou ao cinema todas as semanas»).
ii) à especificidade da predicação, podendo ser:
1 – pontuais, coincidindo com eventos instantâneos
2 – durativos, coincidindo com eventos, actividades ou estados prolongados.
Para além das características lexicais e morfológicas (de flexão) dos verbos, o aspecto pode ser construído com recurso a advérbios («O João vai frequentemente ao cinema») (iterativo) ou a outros verbos («O João costuma ir ao cinema») (habitual).
O consulente poderá encontrar mais informação na Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus e outras, Caminho, 5.ª ed., 2003, páginas 133 a 153.