O contraste apontado, que não é exclusivo do português, revela-se geralmente pelo uso do mesmo lexema com dois significados diferentes. Por exemplo, carvalho pode ser a árvore e a madeira da árvore: «uma mata de carvalhos» (contável e, portanto, pluralizável) vs. «uma mesa de carvalho» (não contável e pluralizável em condições especiais).
No entanto, também a respeito de termos que denotam árvores e tipos de madeira, pode-se pensar em lexemas que partilham a mesma raiz, mas que se diferenciam quanto às suas terminações, definindo-se pares contrastivos formados por um item mais extenso, designativo da árvore, em que se distingue um sufixo (-eiro, -eira) e outro mais curto, que denota a madeira:
(1) azinheira (árvore) – azinho («madeira de azinho», «lenha de azinho»)
(2) castanheiro (árvore) – castanho («uma mesa de castanho», ou seja, uma mesa feita de madeira de castanheiro, embora também se diga «madeira de castanho»)
(3) sobreiro (árvore) – sobro (madeira, como em «lenha de sobro»)
Não é este um contraste sistemático, porque o segundo termo de cada par pode ocorrer como denominação da própria árvore (cf. Vasco Botelho de Amaral, Grande Dicionário de de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 2.º volume, 1958, p. 670/671).
Mesmo assim, trata-se de um contraste que pode observar-se em distintos campos lexicais e já entre palavras radicalmente diferentes. Deteta-se assim entre um nome contável que designa uma realidade natural ou produzida por mãos humanas e o nome não contável que se aplica à matéria constitutiva dessa realidade; por exemplo, entre rio, lago ou mar, por um lado, e água; ou entre pão e farinha (ainda que neste último caso pão também possa tornar-se não contável: «sopas de pão»).