De uma forma geral, os pronomes clíticos (ou átonos) que surgem no interior de uma oração subordinada são colocados em posição proclítica.
As frases apresentadas pelo consulente envolvem, no entanto, uma questão adicional: a colocação do clítico em orações subordinadas finitas coordenadas entre si. Nestes casos, quando a conjunção subordinativa não está presente nas orações coordenadas, aceita-se a ênclise ou a próclise nos termos coordenados. Assim, as frases apresentadas a seguir são ambas aceitáveis:
(1) «A afirmação é verdadeira porque, na infância, sonhamos muito e nos iludimos muito.»
(2) «A afirmação é verdadeira porque, na infância, sonhamos muito e iludimo-nos muito.»
Finalmente, na segunda frase apresentada pelo consulente, a tendência será a de considerar aceitável o uso com próclise em ambas as orações (3), sendo, todavia, possível a ênclise na segunda oração coordenada (4):
(3) «A afirmação é verdadeira porque, quando ele vê um castelo ou vai à praia, se recorda da infância e se lembra que esse sonho foi destruído.»
(4) «A afirmação é verdadeira porque, quando ele vê um castelo ou vai à praia, se recorda da infância e lembra-se que esse sonho foi destruído.»
Relativamente ao uso da preposição de com o verbo lembrar-se, esclarecem Cunha e Cintra que, com uma oração completiva, a preposição pode ser omitida. Os autores apresentam como exemplo:
(5) «Lembro-me que certa vez juntei uma porção de artigos médicos sobre o assunto.» (Rubem Braga, 100 crónicas escolhidas, 49)1
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1. Cf. Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo. Ed. Sá da Costa, p. 525.