1. No desafio semanal 100% Português, dinamizado no mural do Ciberdúvidas no Facebook, um novo anglicismo em discussão: phishing. «Pesca de dados», «roubo de dados», «roubo de dados confidenciais», «ciberpescagem» e «ciberiscagem» foram as sugestões, que muito se agradecem, mas antes de passar a uma apreciação, convém compreender a formação do termo inglês. Homófono de fishing, «pesca», phishing exibe o digrafo ph «talvez por influência de phreak* e do grupo rock norte-americano Phish, surgido nos anos 80 do século passado» (Etymonline). A palavra parece ter nascido na gíria do ciberpiratas (hackers) a partir de 1995, com o significado de «falsificação de identidade com o intuito de roubar informação confidencial como nomes de utilizadores, senhas e dados de cartões de crédito» (ibidem). No Glossário da Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação (APSDI), phishing tem como equivalentes «falsificação da interface» ou «mistificação da interface», soluções possíveis, com (escasso) uso atestado (ver aqui e aqui). Reconheça-se, entretanto, que, das propostas dos seguidores do Ciberdúvidas, a expressão «pesca de dados confidenciais», eventualmente reduzida a «pesca de dados», tem a vantagem de manter a metáfora expressiva do vocábulo inglês, alusiva ao logro do isco usado na pesca. "Ciberpescagem" e "ciberiscagem", apesar de criativas e em linha com o espírito do inglês, constituem palavras de correção duvidosa, visto que "pescagem" e "iscagem" não parecem ter uso. Resumindo, phishing encontra não uma, mas várias soluções vernáculas. Sugerimos que «falsificação de dados» e «pesca de dados (confidenciais)» (esta eventualmente em concorrência «com roubo de dados») se perfilam como boas opções. Refira-se que, no Consultório, também se comenta o anglicismo voicemail, propondo em alternativa uma expressão que já tem difusão apreciável em Portugal: «correio de voz» (ver ponto 3).
* Por sua vez, phreak é uma variante de freak, «anormal, maluco», e também faz parte da gíria, fazendo parte da expressão phone phreak, que originalmente se usava na aceção de «indivíduo que pirateava e ludibriava com criatividade as companhias de telefone dos anos 70». A moda de escrever ph em vez de f, que existiu em inglês, parece decorrer justamente dum artifício gráfico, em que phreak, com ph, forma incorreta, se salienta por reforçar visualmente phone, que começa corretamente com ph. Cf. Etymonline. Crédito da imagem: Mohamed Hassan, Pixabay (10/10172025).
2. A atualidade é marcada pelo anúncio da paz na Faixa de Gaza, na esperança de se pôr fim a uma guerra que se arrasta desde 7 de outubro de 2023 com milhares de vítimas. Nas Controvérsias, a consultora Sara Mourato dá conta do debate que, na opinião publicada em Portugal, se tem gerado à volta da propriedade ou impropriedade do termo genocídio para referir o trágico balanço de mortos nesse território do Estado Palestiniano.
3. Além da questão à volta de voicemail, outro tópico, com particular atualidade, visto que no dia 12 de outubro se realizam eleições autárquicas em Portugal: quando deve usar o plural eleições? Outros aspetos tratados: o constituinte frásico «com que»; os adjetivos estatal e estadual; o sistema de sibilantes na história do português; a coordenação de «antes de» com após; a colocação do pronome átono em construções de para seguido de infinitivo; e o uso de artigo definido com o topónimo Marco de Canaveses.
4. O ensino do português continua a ser uma preocupação em certos meios galegos, sobretudo tendo em atenção a chamada "Lei Paz-Andrade”, aprovada em 2014 pelo parlamento galego. Na Montra de Livros, apresenta-se o manual Ortografia do Português Passo a Passo, um lançamento da Através Editora que complementa outro já aqui comentado, Pronúncia do Português Passo a Passo. Ambos os livros, da autoria dos professores Joseph Ghanime López e Valentim Fagim, visam tornar mais acessíveis aspetos da fonética e da ortografia a estudantes cuja língua materna seja o espanhol ou mesmo o galego.
5. Relativamente às rubricas em vídeo do Ciberdúvidas: no episódio 39 de O Ciberdúvidas Vai às Escolas, retoma-se o problema da concordância verbal com a construção «um dos que...»; e em Ciberdúvidas Responde (episódio 44), comenta-se o uso e a etimologia do topónimo Fátima, nome do conhecido santuário religioso em Portugal.
6. A poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares venceu o Prémio Camões de 2025. Em comunicado divulgado pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), o júri referiu que, com este galardão atribuído a Ana Paula Tavares, se distingue «a sua fecunda e coerente trajetória de criação estética e, em especial, o seu resgate de dignidade da Poesia». Desta autora, o Ciberdúvidas recolhe três textos: "Língua materna" e "A morfologia das palavras" na Antologia; e, à volta do debate sobre ortografia, "Primeiro estranha-se".
Refira-se que o Prémio Nobel da Literatura de 2025 foi atribuído ao escritor húngaro László Krasznahorkai. E recorde-se que o nome Nobel é palavra aguda, com acento tónico na última sílaba. Pronuncia-se, portanto, "nobél", como tem sido dito em vários conteúdos em arquivo: "Nóbel ou Nobél?", "Nobel", "Ainda o Nobel", "Nobel, palavra aguda ou oxítona".
7. Outros registos:
– o Festival Literário Internacional de Óbidos – Fólio 2025, de 9 a 19 de outubro;
– a sessão Desafios da escrita académica – Práticas de pesquisa, recolha e uso de informação no texto a partir de fontes documentais e dos recursos da IA, 13 out., promovida pelo Núcleo de Investigação e Didática em Escrita Académica da Universidade Eduardo Mondlane e orientada pela linguista Joana Vieira Santos (CELGA-ILTEC, Universidade de Coimbra);
– a 4.ª edição do Encontro Nacional sobre Discurso Académico (ENDA 4) realiza-se na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Santarém nos dias 17 e 18 de outubro de 2025 e tem como tema "Transversalidade da língua: Descrição linguística e transposição didática".
8. Referência a dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, são dedicados a temas da língua portuguesa:
– Qual o papel político da nossa língua comum no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)? Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 10/10/2025, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), convida-se a professora universitária e linguista Margarita Correia, que nos propõe uma reflexão oportuna e necessária sobre a questão.
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 12/10/2025, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 18/10/2025, às 15h30*), são entrevistados os professores que coordenam o projeto "História e Estórias Ciganas", Paulo Feytor Pinto (direção da Associação de Professores para a Educação Intercultural) e Marta Torres (Associação de Professores de História). No programa, participa ainda a professora Carla Marques, com um apontamento a respeito do significado da expressão «ser mais papista do que o Papa».