1. Conforme foi anunciado, o Ciberdúvidas deu início a um novo desafio colaborativo – "100% Português" – com o qual se pretende incentivar no público a procura de palavras portuguesas capazes de substituir os anglicismos que, em excesso, circulam atualmente em Portugal. A primeira palavra proposta era a de homebanking, que suscitou vários comentários de consulentes e seguidores, a quem se agradece a adesão e a ajuda. Algumas soluções foram apresentadas, salientando-se «banco virtual», «banco digital», «banco direto» e «banco de casa» (ou «em casa»); seguiam-se «banco conectado» e «banco ao domicílio». Fazendo um rápido comentário a estas formas, com base nas tendências de uso identificáveis, por exemplo, no Corpus do Português (CP), observa-se que «banco digital» ou «banco virtual» são designações, com significado próprio, principalmente como «banco e respetivos serviços que desenvolvem atividade em ambiente digital/virtual». Quanto a «banco de/em casa», «banco conectado» e «banco ao domicílio», o CP não fornece exemplos. Resta «banco direto», que ocorre apenas uma vez no CP, mas num caso significativo, o de designar a aplicação que permite aceder a uma conta bancária. Em Portugal, pelo menos, considerando que já existem serviços de atendimento em linha que têm associado o adjetivo direto («serviço Caixadireta», «Caixa Geral de Aposentações Direta»), a expressão «banco direto» pode ser um bom equivalente para evitar o anglicismo homebanking.
Fazendo o cotejo da referida lista com as expressões que, timidamente, ocorrem na promoção de produtos bancários, salienta-se «banco online», que um híbrido luso-inglês, que pode transpor-se como «banco em linha», (quase) completamente em português – ainda que «em linha» seja o decalque do inglês online, o que, entre falantes mais exigentes, pode revelar-se óbice à adoção e difusão desta expressão.
2. Continuando com o tema do excesso de estrangeirismos anglo-saxões, o Pelourinho transcreve, com a devida vénia, um apontamento muito crítico (Facebook, 30/09/2025), acerca da anglofonia que afeta, em Portugal, denominações de atividades e espaços nas áreas do desporto, da política e da vida académica.
3. Na Montra de Livros, apresenta-se Português como Língua Estrangeira/Segunda Língua. Diálogos sobre Políticas Linguísticas nos PALOP, uma publicação da Letraria Editora, organizada por Janaína Vianna da Conceição, Ana Cecília Cossi Bizon e Cláudia Hilsdorf Rocha, que reúnem entrevistas com investigadores e professores dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), abordando questões de política linguística, educação e identidade.
4. Ainda na rubrica Montra de Livros, dá-se destaque a A Pronúncia do Português Passo a Passo, um manual de Joseph Ghanime López e Valentim Fagim, dois professores de Português, que com esta publicação visam sensibilizar e capacitar os estudantes galegos para as subtilezas e a variação da fonética do português contemporâneo, sobretudo na modalidade "lusitana". Recorde-se que na Galiza se fala, além do espanhol, a língua galega, que partilha com o português a mesma raiz e o extraordinário legado medieval da poesia galego-portuguesa. A afinidade ainda é detetável quando se comparam o português e o galego, como testemunha o Dicionário Estraviz, um dicionário de português na perspetiva galega, da autoria de Isaac Estraviz. Em 2025, este lexicógrafo completou 90 anos, aniversário que se assinala em Diversidades com um texto do poeta e editor Miguel Anxo Fernán Vello.
5. Sabe-se que em espanhol perro é o mesmo que cão (em galego é can) ou, no Brasil, geralmente, cachorro. Perro é ou foi alguma vez também uma palavra portuguesa? Esta é uma das seis dúvidas que atualizam o Consultório, nas quais se esclarecem outros tópicos: o uso do pronome o para retomar orações; as expressões «esta noite» e «taxas aduaneiras»; a palavra timorense coilão; e a sinonímia entre após e «depois de».
6. Na rubrica em vídeo "O Ciberdúvidas Vai às Escolas" (episódio 38), fala-se da sintaxe do verbo informar («informar de que» vs. «informar que», enquanto em "Ciberdúvidas Responde" (episódio 43) o tema tratado é o origem de lusíada, palavra que Camões tornou famosa por causa do título da sua obra maior, Os Lusíadas.
7. Cresce a preocupação com a tensão e a agressividade que, um pouco por toda a parte, incluindo Portugal, se instalam na comunicação privada e pública, chegando ao próprio discurso político e académico. A situação tem motivado comentários em artigos de opinião:
– No Correio da Manhã (03/10/2025), o escritor José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, afirma: «A linguagem tornou-se um inquietante campo de treino para os blocos em confronto. A linguagem tornou-se um dissimulado campo de batalha, até em Portugal, em que todos chamam quase tudo a todos não se lembrando de que pela boca morre o peixe.»
– No Público (27/09/2025), o arqueólogo Luís Raposo demarca-se do uso da expressão «pessoa escravizada», defendendo que «a adjectivação escravizado não deve impedir a continuação do uso da categoria substantiva escravo».
8. Outros registos, desta vez, a propósito do português do Brasil e das relações culturais e linguísticas entre este país e Portugal:
– No Facebook, em publicação intitulada "O que você precisa conhecer!" (02/10/2025), o gramático Fernando Pestana recomenda a leitura de quatro obras sobre a língua portuguesa no Brasil, porque «[é] preciso ressuscitar os mortos e não cair na cronolatria epistemológica, como se fosse mal tudo que é velho e bom tudo que é novo». Obras apresentadas: "Língua portuguesa e realidade brasileira", de Celso Cunha; "A língua do Brasil", de Gladstone Chaves de Melo; 3. "A unidade linguística do Brasil", de Sílvio Elia: e "Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil", de Serafim da Silva Neto.
– Voltando ao jornal Público (01/10/2025), o jornalista Nuno Pacheco assinala a exibição da peça Língua Brasileira, de Felipe Hirsch, no Teatro Nacional São João, de 2 a 5/10, bem como um filme, do mesmo autor Nossa Pátria Está onde Somos Amados, rodado em maio de 2022 no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
8. Quanto aos temas de dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 3/10/2025, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista a João Pedro Aido, presidente da Associação de Professores de Português (APP), sobre os resultados das provas ModA (Monitorização das Aprendizagens).
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 5/10/2025, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 11/10/2025, às 15h30*), entrevista-se Domingos Fernandes, presidente do Conselho Nacional de Educação, sobre os resultados do relatório Education at a Glance 2025 [traduzível por "A Educação em Panorama"], da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), relativos a Portugal. Ainda no programa, um apontamento da professora Carla Marques.