1. As eleições europeias realizam-se entre 6 e 9 de junho, num ambiente de inquietação quanto ao futuro da União Europeia e da própria Europa, hoje bem longe dos tempos em que a viam no centro do mundo. Até as línguas europeias de projeção global se descentram, com novos focos de inovação e mudança noutros continentes, como acontece com o inglês, com o francês, o espanhol e, claro, o português. É de África que chegam atualmente sinais da vitalidade da língua portuguesa, sobretudo nos meios urbanos de Angola e Moçambique; noutros países, por exemplo, em Cabo Verde, o devir do idioma concorre com o das línguas crioulas. Propondo fazer um ponto da situação, incluem-se neste dia:
– em O Nosso Idioma, a primeira parte de um trabalho mais extenso da consultora Inês Gama, que entrevista três professoras do ensino superior a respeito da situação do português em Moçambique, Cabo Verde e Angola, países onde estas docentes têm desenvolvido a sua atividade;
– nas Lusofonias, disponibiliza-se a terceira parte de um estudo da linguista Goreti Freire sobre o contributo do português para a construção da identidade cabo-verdiana.
2. O número de falantes cresce no Brasil, em Angola ou Moçambique, países cuja história linguística foi profundamente afetada pelo movimento expansionista de Portugal, em pleno fulgor nas primeiras décadas do século XVI. Luís Vaz de Camões, que terá nascido por volta de 1524, foi capaz de captar literariamente o espírito da sua época, dando-lhe expressão lírica e épica, de tal maneira que, ainda hoje, os textos camonianos definem a personalidade da própria língua. A propósito da celebração do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, apresenta-se em Montra de Livros o volume Camões – Uma Antologia (Quetzal Editores, 2024), organizado pelo classicista, tradutor e ensaísta Frederico Lourenço, que assinala deste modo o 5.º centenário do nascimento do Poeta.
Sobre esta comemoração, ler aqui notícia na RTP, datada de 04/06/2024. Sugere-se também a leitura de "Portugal cabe todo n'Os Lusíadas: viagens ao mundo do épico de Camões" (Expresso, 07/06/2024).
3. Os poemas de Camões também levantam dúvidas e questões no Consultório. É o caso dos versos «Mas eu, que tenho o mundo conhecido, / E quase que sobre ele ando dobrado», que integram o soneto "Julga-me a gente toda por perdido". Que quererão eles dizer? A esta pergunta, acrescem cinco, num total de seis: que modalidade se associa à construção «é de salientar que...»? Existe a palavra "felão", relacionado com felonia? Outrossim significa apenas «também» ou pode ter outros valores? Como classificar o que incluído na exclamação «até que era engraçado!»?
Na imagem, Camões e as Tágides (1894), da autoria de Columbano Bordalo Pinheiro, no Museu Nacional Grão Vasco (Viseu).
4. Todo o cuidado é pouco com os muitos casos de falta de correspondência entre a pronúncia e a grafia. No Pelourinho, comentam-se duas confusões gráficas verificadas no espaço mediático de Portugal: a troca de c intervocálico por -ss-, que dá a forma errónea "comíssio", em lugar de comício, num registo transcrito do Observatório da Lingua Portuguesa; e a confusão entre prol e prole, explicada pela consultora Sara Mourato.
5. O mês de junho é o Mês do Orgulho LGBTI+, em memória da Revolta de Stonewall, ocorrida em Nova Iorque em 28 de junho de 1969. Em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia do jornal Público um artigo da empresária brasileira Natália Beauty, que lista seis palavras relativas a atitudes preconceituosas e discriminatórias manifestadas nas redes sociais.
6. Quanto a iniciativas, notícias e comentários que envolvam a língua portuguesa, destacam-se: a conferência do linguista Márcio Undolo intitulada "Características do português de Angola" em 06/06/2024 na Academia Angolana de Letras; a publicação pela Universidade de Coimbra de uma retextualização do conto A instrumentalina, de Lídia Jorge (ver Notícias); um trabalho jornalístico sobre a influência do português do Brasil em Portugal (Observatório da Língua Portuguesa, 04/06/2024); o sucesso do português, como segunda língua mais procurada no acesso a universidades dos EUA (RTP 3 Madeira); a exposição "Talking brains – programados para falar" patente ao público até 01/09/2024, no Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva, em Lisboa ( Estrela e Ouriços, Sapo); o alerta do realizador Sana Na N'Hada: «A lingua portuguesa está a desaparecer na Guiné-Bissau.» (Observador, 01/06/2024).
7. Quanto aos conteúdos de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 07/06/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista com a professora Clara Keating (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) sobre a temática da variação linguística e da educação.
– Entrevista com o ensaísta e crítico literário António Carlos Cortez acerca de Luís de Camões e, particularmente, d’Os Lusíadas, no programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 09/06/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 15/06/2024, às 15h30*).
– Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora de Portugal continental.