1. A senda da evolução da covid-19 coloca as populações a depositar a sua confiança nas formas de proteção que as investigações científicas têm desenvolvido. Entre elas encontram-se as vacinas, concebidas sob diferentes formas de abordagem, que dão origem já a vacinas de 1.ª, 2.ª e 3.ª geração e às quais se juntam também as vacinas de ADN. No entanto, a mesma solução que promete salvar as populações tem levantado problemas ligados à corrupção ou à falta de ética, como se verifica pela hipótese de administração de vacinas de vento (sobretudo no Brasil) ou pela existência de fura-filas, que teimam em desrespeitar as prioridades de vacinação definidas pelas autoridades. Apesar de ter encontrado já soluções de vacinação, a comunidade científica mantém uma especial atenção a cada mutação, variante, cepa e linhagem do vírus SARS-CoV-2, atentando sobretudo na sua disseminação, virulência ou patogenicidade. Presta-se igualmente especial atenção a sequelas da covid-19, tais como o aparecimento de formas de pneumonia raras ou o desenvolvimento de bactérias oportunistas. Entretanto, na ordem do dia em Portugal instala-se a dúvida sobre se é chegado o momento de desconfinar. Cansada do isolamento e das suas consequências e confiante na diminuição dos números diários de contágios, a população começa a dar sinais de vontade de regresso à vida normal, o que implicará, entre outros aspetos, a reabertura das escolas. Pensando nesta realidade, diversos setores da sociedade deixam já exigências relacionadas com as creches. Os termos destacados incluem a nova atualização de A covid-19 na língua e a eles juntam-se ainda as entradas Antígenos, Cepa, Informação ≠ especulação e espetáculo, Linhagem e Matriz (de riscos).
2. A exploração dos significados da palavra mentideiro, originária do castelhano mentidero, abre a atualização do Consultório, acompanhada pela explicação da origem do termo membresia, de aceitação ainda duvidosa. A estas respostas juntam-se a análise do constituinte «a que houvesse discórdia» enquanto complemento do verbo levar, a análise de um complemento direto preposicionado, a explicitação da regra de concordância do possessivo com um sintagma nominal composto por nomes coordenados, uma explicação sobre diferentes tipos de modalidade estudados no ensino não universitário e ainda uma reflexão sobre o uso das palavras dor e dores.
3. Os problemas de tradução estão presentes, em diversas situações, nos programas televisivos. Desta feita, o erro merecedor de entrada no Pelourinho foi a tradução do inglês camaraderie por "camaradaria", como nos dá conta neste apontamento a jornalista Paula Torres de Carvalho.
4. Partindo da tese defendida por Roland Barthes de que não existe linguagem objetiva, o escritor português Gonçalo M. Tavares desenvolve um artigo no qual demonstra como a linguagem permite perspetivar de formas distintas uma mesma realidade, o que abre o caminho à manipulação das perceções sobre a realidade com recurso a mecanismos que importa conhecer para defesa da própria ação de cidadania (crónica originalmente divulgada na Revista E do jornal Expresso e aqui transcrita com a devida vénia).
5. A profusão de estrangeirismos que integra o léxico quotidiano dos portugueses leva o escritor e argumentista Alexandre Borges a defender a tese de que a língua portuguesa acabará por definhar naturalmente face à hegemonia da língua inglesa (artigo originalmente publicado no jornal Observador e aqui transcrito com a devida vénia).
6. A importância do léxico está patente também nos palavrões que o integram, os quais assumem funções muito diversas nas relações humanas. Tomando este facto como mote, a jornalista mexicana Darinka Rodríguez apresenta a nova série da Netflix intitulada History of Swear Words [«A História dos Palavrões»], que aborda a história de seis dos insultos mais usados em língua inglesa (artigo originalmente publicado em espanhol na página Verne, que aqui transcrevemos com a devida vénia).
7. O jornal espanhol El País lançou uma nova edição do seu Livro de Estilo (editora Aguilar). Nesta 23.ª edição Este documento integra questões muito atuais, como a problemática do género gramatical a adotar. Neste plano, determina-se, pela primeira vez, o uso das formas femininas "jueza" [juíza] e "concejala" [vereadora], embora para os restantes casos se mantenha o uso do masculino. Apresenta também recomendações relativamente ao sexismo na linguagem e às formas de apresentação da violência machista (artigo completo aqui).
Sobre a formação, em português, do feminino de profissões e cargos tradicionalmente excercido por homens, vide. entre outros textos disponiníveis no arquivo do Ciberdúvidas Juiz, juíza + A juíza e a presidente + Palavras à procura do feminino + O sexo e a língua, Capelã e capelã + Capitã, outra vez + O feminino de mestre + Mulheres... barbeiras + O feminino de carteiro + A tropa no feminino + Poetisa inferiroiza?+ Uma maestrina a quem chamam maestro + A chanceler, a chancelera ou a chancelerina? + Palavras à procura do feminino + Os cidadãos e a gramática.
8. No dia 21 de fevereiro assinalou-se o Dia Internacional da Língua Materna, o que motivou uma variedade de eventos. Entre eles, destacamos os seguintes (que poderão ser revistos):
— A Journée Internationale des Langues Maternelles: 36 voix pour un petit tour du Monde, um encontro onde se apresentaram testemunhos relacionados com línguas como o basco, o bretão, entre outras (disponível aqui);
— A tertúlia «O desassossego das palavras», organizada pela Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga, que contou com a presença dos linguistas Marcos Bagno, Fernando Venâncio e do moderador José Moreira da Silva, que abordaram o tema do preconceito linguístico e a intolerância (notícia aqui).