O uso do plural dores não depende sistematicamente da forma gramatical da parte do corpo a que se reporta.
Diz-se: «estou com dores nas costas», «estou com dores de cabeça», «estou com dores de dentes», «estou com/tenho dores de estômago», «sinto dores no peito», no sentido genérico de «ter dor» ou «ter dores». Por outras palavras, dores pode remeter para qualquer parte do corpo, seja esta geralmente denotada por um nome no singular ou por um nome no plural.
Mas também se emprega o singular, para sublinhar uma dor numa situação concreta:
(1) Estou com uma enorme dor de cabeça/de dentes
Este uso pode dispensar o artigo indefinido: «estou com dor de cabeça»
Uma consulta do secção histórica do Corpus do Português, de Mark Davies, mostra que a ocorrência do plural de dor não é concomitante do plural do seu complemento, porque a par de «dores de costas» se atesta «dor de costas» e «dores de dentes» (11 ocorrências), que inclui o plural dores, associado a outro plural, dentes, e chega a figurar textualmente menos vezes que «dor de dentes» (28 ocorrências).
O uso do plural parece mais frequente em Portugal do que no Brasil. Com efeito, uma consulta do mesmo corpus revela que, enquanto nos textos representativos do português de Portugal têm frequências próximas as sequências «dor de...» (92 vezes) e «dores de...» (82 vezes), nos textos do Brasil desenha-se um claro predomínio de «dor de...» (172 vezes) sobre «dores de...» (39 vezes).
Também o exame da construção «(ter/sentir) dor em(parte do corpo)» no referido corpus – p. ex., «dor na coluna»/«dores na espinha» e «dor nas costas/dores nas costas» – leva a concluir que não há relação entre a pluralização de dor e a do nome anatómico a que se refere.