1. Enquanto na França, Bélgica, Alemanha e até em Portugal, a atualidade é marcada pelos protestos dos agricultores, na capital portuguesa anunciava-se um outro tipo de manifestação, de motivações e contornos alarmantes. Os seus promotores insurgem-se contra o que chamam polemicamente a «islamização de Lisboa» e declaram a sua xenofobia, visando imigrantes e minorias. Convém, portanto, recordar e realçar a importância do passado mourisco de grande parte de Portugal, em especial das regiões a sul do rio Mondego, nas quais a presença berbere e árabe, geralmente associada ao Islão, alterou a composição étnica da população e o seu perfil cultural. Numerosos são os vestígios materiais da época árabo-muçulmana, cujo legado tem em Portugal, à semelhança do que acontece no centro e sul de Espanha, uma forte componente linguística ainda hoje evidenciada por palavras do quotidiano como azeite, arroz e açúcar. Na toponímia, a herança é avultada, com nomes total ou parcialmente arábicos, sendo a região metropolitana de Lisboa particularmente rica a este respeito: Alfama, Algés, Queluz, Almada, Alcochete, Alcabideche, Odivelas. Os próprios nomes Lisboa e Tejo, se bem que pré-romanos, acusam o influxo fonético árabo-berbere. Em O Nosso idioma, a consultora Inês Gama aprofunda este tema, referindo-se ao impacto do árabe dos antigos Mouros na história do nosso idioma comum. Vide, ainda, Só «ignorância» explica manifestação contra «islamização» de Lisboa
Na imagem, aspeto da igreja de Nossa Senhora da Anunciação, edifício que está localizado em Mértola (distrito de Beja) e que foi antiga mesquita (crédito: "Sua Maldade", 25/11/20015).
2. Ainda na rubrica O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato assinala um uso especial de gratidão, que em tempos mais recentes tem aparecido em concorrência com a fórmula de agradecimento mais convencional – obrigado ou obrigada.
3. Na aprendizagem da leitura e da escrita, que estratégia adotar quando a letra e se pronuncia [i] em veado ou até nem se realiza foneticamente, por exemplo, em escola, que, em Portugal, pode soar "chcola"? A questão integra o conjunto de seis perguntas da atualização do Consultório, onde igualmente são tema: a grafia do arabismo Hajj, a expressão «pôr a ridículo», os valores aspetuais de «vem exercendo», os usos do pretérito perfeito do indicativo e a palavra blusão.
4. O futebol é sempre notícia, e, em Portugal, as manchetes multiplicam-se pelos piores motivos, dando conta da detenção, em 31 de janeiro de 2024, de Fernando Madureira, de alcunha "(o) Macaco" e líder dos Super Dragões, a claque do Futebol Clube do Porto. A propósito deste escândalo e à volta dos usos idiomáticos e jocosos a que se presta o nome macaco, em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia o artigo de opinião que escritor Bruno Vieira Almeida publicou no semanário Expresso de 02/02/2024.
5. Destinado ao uso do inglês nas instituições da União Europeia, surgiu um documento com recomendações para uma linguagem não sexista. A reação não se fez esperar, como revela o jornalista Tiago Caeiro numa peça incluída no jornal Observador em 29/01/2024 e transcrita na rubrica Diversidades com a devida atribuição.
6. Registos com interesse linguístico direto ou indireto:
– Em 29/01/2024, o veto, por Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, dos decretos do parlamento sobre escolha de nome próprio neutro e medidas a adotar pelas escolas para a implementação da lei que estabelece a autodeterminação da identidade e expressão de género (ver Jornal de Notícias).
– Em 31/01/2024, a conferência PROPOR24 – A língua galega com outros olhos, proferida por Valentim Fagim, professor de português na Escola Oficial de Idiomas de Santiago de Compostela e diretor da Através Editora.
– As eleições nos Açores, para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma, que se realizam no domingo, 04/02/2024 (ver Comissão Nacional de Eleições; sobre a grafia de açoriano, ler resposta).
– O trabalho de voluntariado de um grupo de cidadãos portugueses que, na Guiné-Bissau, dão formação a professores de Português (cf. Observatório da Língua Portuguesa).
7. Acaba de ser lançado um novo episódio do podcast do Ciberdúvidas, produzido pelo Laboratório de Competências Transversais do Iscte. O tema são os nomes de marcas que se tornaram substantivos comuns, como aconteceu com Tupperware, aportuguesado como taparuere.
8. Referência final para três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:
– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 02/02/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se a professora Edleise Mendes, coordenadora do XV Curso de Capacitação para a Elaboração de Materiais Didáticos em Timor-Leste, promovido pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) entre os dias 5 a 9 de fevereiro de 2024, na cidade de Dili (Timor-Leste).
– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 04/02/2024, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 10/02/2024 às 15h30*), João Pedro Aido, da Associação de Professores de Português, fala sobre as XI Olimpíadas da Língua Portuguesa, uma iniciativa conjunta da Associação de Professores de Português (APP) com a Direção-Geral da Educação (DGE), o Plano Nacional de Leitura (PNL), a Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE), a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) e a Escola Secundária de Camões (ES Camões). Ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques sobre uma questão de concordância.
– Igualmente na Antena 2, Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, cujas emissões de 5 a 9 de fevereiro (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50) são preenchidas pelo tema da etiqueta vocal.
* Hora oficial de Portugal continental.