O mundo muçulmano está na ordem do dia depois dos atentados de Paris no passado dia 7 e posteriores repercussões internacionais, fazendo recorrentes as palavras (de origem árabe ou não árabe) que a ele se referem. À volta das muitas oscilações gráficas, morfológicas e semânticas que esses termos apresentam – basta recordar a discussão gerada pela forma islamista –, aqui ficam breves comentários sobre três casos, buscando ora a forma tradicional, ora o aportuguesamento, ora a consistência entre forma e conteúdo:
– Islão e islão: a ortografia portuguesa, pelo menos desde meados da década de 40 do século passado (ver Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, de 1947, e Vocabulário da Língua Portuguesa, de 1966), tem-se apoiado numa distinção referencial para determinar o uso da maiúscula e minúscula iniciais; sendo assim, Islão designa o conjunto dos países islâmicos, enquanto islão é a designação da doutrina religiosa também conhecida como islamismo (ver esta resposta). Mencionem-se ainda as variantes Islã/islã (bastante usadas no Brasil) e Islame/islame. Para outra proposta, ver artigo de Francisco Bélard, disponível na rubrica Controvérsias.
– Chador e burca: a atualidade (com a história) exige termos mais específicos do que o vago e convencional «véu islâmico»; refira-se, por exemplo, a entrada no léxico português de chador – que, há algum tempo, os dicionários adotaram sem dificuldade, mas que, com rigor filológico, deveria ser xador –, e burca, adaptação adequada de burqa ou burka, transcrições de formas usadas em persa e árabe (consulte-se artigo da Wikipédia em espanhol; ver também nicabe, aportuguesamento de niqab).
– Integrismo e integralismo: como sinónimos de fundamentalismo, ocorrem nas notícias ambos os termos, mas, no plano religioso, na exata aceção de «apego exacerbado aos princípios e dogmas de uma religião, não admitindo qualquer tipo de mudança em relação a eles» (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), é integrismo o termo registado em vários dicionários (Houaiss, Priberam, Porto Editora).
Sobre este assunto, a rubrica O Nosso Idioma inclui uma lista que reúne mais palavras relacionadas com o mundo islâmico.
A atualização do consultório inclui respostas que propõem uma análise aprofundada de tópicos como o uso de dois tempos do conjuntivo – o presente e o futuro – em orações relativas; a adaptação de palavras do grego bizantino ao português; e os contrastes semânticos associados à ocorrência ou omissão dos artigos definidos com substantivos. Incluem-se ainda apontamentos mais breves quer sobre a relação da palavra magriço com a história do futebol português, quer a respeito da conversão do prefixo super- em substantivo.
A Ciberescola da Língua Portuguesa e os Cibercursos, que desenvolvem projetos de apoio à aprendizagem do português (língua materna e não materna), facultam acesso gratuito a materiais didáticos e realizam cursos individuais para estudantes estrangeiros (Portuguese as a Foreign Language). Mais informação no Facebook e na rubrica Ensino.