1. Em França, começa neste dia, prolongando-se até 10 de julho, o Campeonato Europeu de Futebol de 2016 – Euro 2016, usual na imprensa portuguesa, Eurocopa no Brasil, ou, na sua denominação internacional, UEFA Euro 2016. Com a intensa cobertura mediática que os jornais, rádios e televisões lhe vão dar, serão, pois, dias cheios do chamado futebolês à solta... no melhor da sua criatividade, mas também na repetição de muitos disparates que lhe estão associados. Uma boa oportunidade, então, é o que propomos, para uma viagem por alguns desses termos e expressões da linguagem própria do que é hoje considerado o maior espetáculo do mundo*.
* Do chamado futebolês, encontram-se no arquivo do Ciberdúvidas, entre outros apontamentos: "Ludopédio = futebol"; "O plural da palavra futebol"; "O vocábulo coletivo em relação a uma equipa de futebol"; "Péssimo futebol falado", "O hífen em termos de futebol"; "Incidências do futebolês"; "Amarrar a bola"; "A origem da expressão roubo de igreja"; "Já sabe o que é um zagueiro?"; "A sorte do jogo podia ter ficado decidida..."; "Futebolês", "Futebolês, outra vez", "Viva o futebolês!"; "A intensificação da linguagem do futebol"; "O dialeto luso em futebolês"; "A ciência do esférico"; "Lesionar", "A sorte do jogo podia ter ficado decidida", "Ninguém corre atrás do prejuízo", "Jogo de palavras", "Viagem pelo futebolês mais desregrado", "O futebol falado diferentemente no Brasil e em Portugal".
2. A estrela maior deste espetáculo futebolístico, o jogador Cristiano Ronaldo, propiciou um "caso linguístico" curioso. Na reação cautelosa à goleada da seleção portuguesa no encontro particular contra a representação da Estónia, uma equipa de facto de qualidade inferior, apelou para a necessidade de se ter «os pés bem assentes na terra», conforme se pode verificar nestes registos áudio e vídeo. Destinatários óbvios: os adeptos e a própria comunicação nacional portuguesa, facilmente propensos. Muitos jornais citaram fielmente o futebolista, que empregou a expressão consagrada (nestes registos áudio e vídeo). Mas outros preferiram escrever «ter os pés assentes no chão» (por exemplo, aqui), numa escusada hipercorreção** – nada comum, antes pelo contrário, noutros casos que bem justificariam um maior rigor com a língua. A começar na prolação do nome do próprio Ronaldo, por exemplo.
** A forma mais usual é na verdade como a referida pelo futebolista português, mas ambas têm sustentação dicionarística. É o caso do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, que regista, como subentrada de pé, a expressão «ter os pés bem assentes na terra/no chão», com o significado de «ser objetivo e realista». Idem em Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas, de António Nogueira Santos (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 2006): «ter os pés (bem) assentes na terra/ ter os pés fincados na terra», como quando se diz «de pessoa realista, com forte sentido prático».
3. Simultaneamente com a Eurocopa, que começa agora em Paris, está a disputar-se nos Estados Unidos a Copa América 2016, com a participação de muitas seleções da América Latina de expressão castelhana (e também do Brasil). A respetiva cobertura mediática traz também para o primeiro plano o jargão próprio do meio futebolístico no que se vai lendo e ouvindo nessas transmissões. Daí a atenção da Fundação del Espanhol Urgente (Fundéu) para com os respetivos tiques, excessos e descuidos de linguagem, com as suas recomendações ultimamente muito focadas quanto ao bom uso, também aí, do idioma de Cervantes. Com a devida e necessária avaliação das diferenças com o português, vale a pena acompanhá-las. As mais recentes estão disponíveis aqui e aqui.
4. O consultório responde a três dúvidas: é erro empregar a expressão «fazer sentido»? A palavra leitura é simples, ou complexa? Que relação haverá entre o nome comum concubina e o nome próprio Amélia?
5. Relativamente aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa, lembramos que o Língua de Todos de sexta-feira, 10 de junho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 11 de junho, depois do noticiário das 9h00*), inclui, entre outros tópicos, o significado de cafuné, explicado pela professora Sandra Duarte Tavares. No Páginas de Português de domingo, 12 de junho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), o tema em foco é a situação da língua portuguesa no Luxemburgo.
* Hora de Portugal continental.
6. Devido à comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 10 de junho, e ao feriado de Santo António, festejado em Lisboa, em 13 junho, as atualizações do Ciberdúvidas regressam na terça-feira, 14 de junho. Fica desativado o formulário para envio de questões, mas, para outros assuntos que não o uso e a gramática do português, estamos contactáveis neste endereço.
7 (11/06/2016). Morreu José Manuel Paquete Oliveira (1936-2016), primeiro e muito respeitado provedor do telespectador da televisão portuguesa, na RTP, entre 2006 e 2011. Professor emérito de Sociologia do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, Paquete de Oliveira, que atualmente era o provedor do leitor do jornal Público, coordenou numerosos projetos científicos e publicou ainda vários estudos na área da Sociologia da Comunicação. Tanto como provedor da televisão pública portuguesa como no Público, várias foram as suas recomendações sobre questões à volta da língua portuguesa. No Ciberdúvidas, podem ser (re)lidos dois textos da sua autoria: "Polémicas linguísticas" e "A 'maldição' dos erros e gralhas".