O regresso do futebol jogado em Portugal trouxe também o futebol… falado. Pessimamente falado. Com as transmissões televisivas e os relatos da rádio, lá voltaram os "flash interview" – melhor: "/flashinteviú/", que é como se ouve chamar àquelas pequenas (ou curtas) entrevistas dos treinadores e jogadores na TV... –, a "prestação" (até há os que preferem "/prestáção/"...) e a "performance". É o futebolês no seu pior estilo: feio e nivelado por baixo, até na repetição dos mesmíssimos e desnecessários anglicismos.
É verdade que em Portugal nunca houve, no jornalismo desportivo, um prosador da estirpe do brasileiro Nelson Rodrigues. Mas ao microfone os portugueses até têm uma tradição de grandes comunicadores, como foram esses nomes maiores do relato do futebol em Portugal, Artur Agostinho e Amadeu José de Freitas. Ambos cultivavam com esmero e grande criatividade a língua portuguesa. O que ainda hoje brilha no léxico futebolístico deste lado do Atlântico é herança desses anos de ouro da rádio desportiva portuguesa.
O colorido de expressões como «a bola à flor da relva», «no enfiamento da jogada» ou «cruzamento largo e tenso» deu lugar à mais confrangedora linguagem estereotipada, que não se sabe se dá para rir, se para chorar. Alguma dessa gíria mais recorrente já entrou mesmo no anedotário nacional: "denunciar fome de bola", "falta de objectividade atacante", "intenção de flanco". E que dizer de expressões como "recepcionar a bola", "ter (ou não ter) a posse da bola", mais a "postura" e o "posicionamento em campo"? Uma vez mais: dá para rir ou dá para chorar?...