Nas fontes a que tive acesso, não encontrei amélia com o mesmo significado que concubina, «mulher que vive maritalmente com homem, sem estar com ele casada» (Dicionário Houaiss), mas regista-se a palavra como brasileirismo do registo informal, com o significado de «mulher amorosa, passiva e serviçal» (idem; ver também Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). Talvez esta aceção possa estender-se a situações de vida marital que a moral de antigamente reprovava, levando a identificá-las até com a prostituição. O certo é que não encontro atestações de tal uso.
Não obstante, não excluo a possibilidade de, no caso em questão, se identificar concubina com a personagem de Amélia, que faz parte do Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós (1845-1900), e que aparece associada a essa palavra, em referência ao estigma social da relação amorosa com um padre:
«Mas Amélia, agora, já não tinha aquela necessidade amorosa de contentar em tudo o senhor pároco. Acordara quase inteiramente daquele adormecimento estúpido da alma e do corpo, em que a lançara o primeiro abraço de Amaro. Vinha-lhe aparecendo distintamente a consciência pungente da sua culpa. Naqueles negrumes dum espírito beato e escravo, fazia-se um amanhecimento de razão. – O que era ela no fim? A concubina do senhor pároco» (in Corpus do Português).
P.S. (15/06/2016): Faltou dizer que amélia, como nome comum usado na aceção acima mencionada, terá origem no antropónimo Amélia, ou melhor, no retrato da personagem assim chamada que é feito no samba Ai! que saudades da Amélia (1942), de autoria de Ataulfo Alves (1909-1969) e Mário Lago (1911-2002) – cf. amélia no Dicionário Houaiss. Agradecimentos ao consultor Luciano Eduardo de Oliveira e ao jornalista Wilton Fonseca pela chamada de atenção para este aspeto histórico.