1. Uma consulente do Brasil pergunta se há 90 anos já existiam a expressão «matar dois coelhos com uma cajadada» e o idiomatismo «dar pano para mangas» – isto é, «resolver dois problemas de uma vez» e «haver ainda muito que conversar», respetivamente. Já, sendo até possível atestar o seu uso literário em finais do século XIX, com variantes: «matar dois coelhos com uma cacheirada» e «dar pano para manga», formas que mantêm, num caso, a metáfora da caça e, no outro, a da confeção de roupa, equiparando um grande corte de tecido ao tema interminável de uma conversa ou debate. E que dizer de um outro giro idiomático, «perder a tramontana», aplicável a uma forte explosão temperamental? Estes são dois dos tópicos abordados na atualização do Consultório, na qual outras dúvidas são também de perder o norte: até que ponto se aceita uma frase como «a feijoada acompanha com laranja e arroz branco»? Será possível construir o complexo verbal «vir a ter feito»? Como se faz a concordância verbal com «nada nem ninguém»? Como se escreve o diminutivo de saliência? Por último, uma palavra bizarra que denota essa mesma qualidade exasperante: escaganifobético.
2. Em Portugal, a marca étnica e cultural de África é significativa, de tal maneira que palavras como bué, cota (no sentido de «velho») ou moamba fazem parte da linguagem corrente. Mas no Brasil essa influência foi mais longe, por via da escravatura e da transferência maciça de falantes de línguas da família Níger-Congo e de um ramo desta, o dos idiomas bantos. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia, do portal educativo MultiRio, um trabalho da jornalista brasileira Fernanda Fernandes, sobre a influência das línguas africanas no português do Brasil, moldado por extensas séries de palavras com origem na África ocidental.
Sobre o impacto das línguas bantas e de outras, também da família nigero-congolesa, leiam-se também os seguintes artigos e respostas: "A dimensão africana da língua portuguesa"; "Português, língua africana"; "A matriz negra portuguesa no Brasil"; "Palavras de origem africana na língua portuguesa"; "A origem e o significado de iaiá"; "Formação do léxico português no Brasil". Sobre as línguas africanas, consulte-se a obra de Ernesto d'Andrade (1944-2013), Línguas Africanas: Breve Introdução à Fonologia e à Morfologia, 2007 (cf. Montra de Livros).
3. Em Portugal, assinalam-se no dia 8 de dezembro os 125 anos do nascimento de Florbela Espanca (1894-1930), um nome singular da poesia portuguesa do século XX. A esta autora, são vários os artigos e respostas que o Ciberdúvidas lhe tem dedicado, entre os quais se salientam "O esquema rimático do soneto Ser Poeta, de Florbela Espanca", "Acerca de antíteses e de paradoxos", "A etimologia dos nomes Florbela, Florípedes, Rosalinda e Santiago", "Do hífen a Fernando Pessoa e a Florbela Espanca", "Vozes femininas da literatura portuguesa". E, para sentir a poderosa carga emocional da palavra de Florbela, ouçamos a atriz portuguesa Eunice Muñoz:
4. Passando ao Brasil e falando da sua capacidade de se afirmar pela suas sínteses culturais, sempre criativas, assinala-se em 8 de dezembro a passagem de 25 anos sobre a morte de uma dos grande vultos do movimento da bossa nova, de Antônio Carlos Jobim (1927-1994) – ou Tom Jobim, como se celebrizou artisticamente. O Ciberdúvidas não tem estado alheio ao contributo deste músico genial para a promoção cultural do seu país, como evidenciam os apontamentos que lhe são dedicados em "A falta que ele nos faz", "Coisas do português", "O advérbio não, Bossa Nova, verbos traiçoeiros e o sinal", e "Língua livresca". Só que melhor que falar de Tom Jobim é ouvir a música dele, e, portanto, aqui fica o "Samba de uma nota só", na interpretação de outra figura inesquecível da bossa nova, Nara Leão (1942-1989): Vide ainda: Após 25 anos da morte de Tom Jobim, legado do artista é celebrado em projetos previstos para 2020.
5. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, duas entrevistas em destaque esta semana: a do antigo embaixador brasileiro junto da sede da CPLP, Lauro Moreira, no programa Língua de Todos (na RDP África na sexta-feira, dia 29 de novembro, pelas 13h20*); e a da professora universitária brasileira Edleise Mendes, sobre o XI Curso de Capacitação, para professores de Português como Língua Estrangeira/não Materna (organização do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e da CPLP), no Páginas de Português (Antena 2, no domingo, 8 de dezembro, pelas 12h30*).
* Ambos os programas têm repetição: o Língua de Todos, no sábado, dia 7 de dezembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 14 de dezembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.