1. Um pouco por todo o mundo, o cansaço dapandemia vai agudizando as posições negacionistas e as manifestações contra as medidas impostas pelos governos para controlar o avanço da pandemia. Esta realidade vai também gerando neologismos como "covideiro" ou "fraudemia", usados para acusar aqueles que agem em conformidade com a existência de uma ameaça pandémica. A medicina, por seu turno, avança indiferente aos acontecimento, procurando aliviar com midazolan os pacientes que têm de ser submetidos à intubação orotraqueal. Descobre-se também que a clofazimina, fármaco usado no tratamento da lepra, pode ser eficaz no tratamento da covid-19 e que o sono é também fundamental para evitar sequelas graves da doença. Todavia, enquanto todas as atenções recaem sobre a covid-19, outras doenças, como a tuberculose, vão ficando para segundo plano, com as consequências daí inerentes. No campo da vacinação, várias equipas mundiais, responsáveis pela organização do processo, adotam o camuflado como indumentária, porque de uma guerra se trata e Israel destaca-se pelo avanço da campanha de vacinação da população e por se ter oferecido como país-cobaia para os estudos dos efeitos da vacina Pfizer. Já no plano económico, famílias e empresas veem-se em dificuldades para suportar as obrigações bancárias, pelo que o governo decretou as moratórias como medida de apoio. Os nove termos destacados correspondem às novas entradas no glossário A covid-19 na língua.
2. A ausência de acento gráfico em palavras como rainha ou moinho dá o mote para uma explicação deste fenómeno que se encontra num preceito anterior à reforma de 1911, como se explica numa das respostas que integram a atualização do Consultório. No plano da evolução das palavras do latim para o português, surge uma dúvida relacionada com a presença de uma assimilação na evolução de ipse para esse. No âmbito das classes de palavras, esclarecemos uma questão relacionada com o uso de cujo como pronome interrogativo e analisamos as expressão «o guloso do rato». A nível sintático, considera-se a sintaxe do verbo apelar e a natureza das orações introduzidas pela locução assim como.
3. O acesso a livros editados noutros países é frequentemente uma tarefa difícil e nem sempre bem-sucedida. Partindo desta constatação, a professora universitária Margarita Correia reflete sobre a importância de serem criadas condições, entre os países que integram da CPLP, para um acesso facilitado a livros e bens culturais (artigo publicado no Diário de Notícias, aqui transcrito com a devida vénia).
4. Numa altura em que se celebra aquele que seria o 76.º aniversário da cantora Elis Regina, o linguista Aldo Bizzocchi apresenta um apontamento onde analisa algumas das particularidades da pronúncia da intérprete brasileira, considerando inclusive algumas evoluções que a sua fala foi incorporando (texto transcrito na rubrica O Nosso Idioma, com a devida vénia).
5. A palavra parabéns resultou de um empréstimo do parabienes castelhano, que a língua portuguesa adaptou e generalizou a muitas situações, como nos conta neste texto o professor universitário e tradutor Marco Neves (crónica publicada originalmente no sítio SAPO 24 e aqui transcrita com a devida vénia).
6. Em Portugal, o Conselho Económico e Social tem em preparação um novo manual de comunicação interna que visa a linguagem neutra e inclusiva. Entre as propostas encontrava-se o abandono do masculino enquanto forma universal ou a substituição de termos como trabalhadores, gestores ou idosos por expressões como «população trabalhadora, gestora ou idosa». Aí sugere-se também a possibilidade de recurso aos dois determinantes, como em «o trabalhador e a trabalhadora», entre outros exemplos que visam a neutralidade linguística e procuram promover a inclusão.
7. Entre as notícias relacionadas com a língua e cultura, destacamos as seguintes:
— A conferência dedicada à vida e obra do escritor angolano Pepetela, promovida pela Academia Angolana de Letras e moderada pela professora e linguista Inocência Mata, com lugar no dia 25 de março, pelas 18h00, via plataforma Zoom;
— A Priberam, enquanto membro do consórcio europeu SELMA, integra um projeto que visa criar uma plataforma multilingue de código aberto, que foi selecionado para apoio pela União Europeia (notícia aqui);
— O falecimento do antropólogo, psicanalista e estudioso da vida das comunidades ciganas José Gabriel Pereira, vítima de covid-19.
Vide alguns dos seus artigos publicados na imprensa portuguesa: por exemplo no matutino Público (A paixão xenófoba de Bonifácio, a questão cigana e o racismo de Estado, O assassinato de companheiras obedece a um padrão cultural que importa combater frontalmente e Portugueses ciganos – o escamoteamento da ciganofobia e o discurso institucional) e na na revista Visão («"É branco, negro, cigano ou asiático?" – A fúria estatística e o racismo em Portugal»).
8. Associadas a esta época, realce-se as seguintes datas:
- 23 de março: Dia Mundial da Meteorologia;
- 24 de março: Dia Nacional do Estudante e Dia Mundial da Luta contra a Tuberculose; centenário do nascimento de Maria Amélia Vaz de Carvalho, escritora e pedagoga portuguesa; um ano da ativação do Plano Nacional de Emergência de Proteção Civil em Portugal; um ano desde a primeira vítima mortal por covid-19 em Cabo Verde (um turista inglês de 62 anos);
- 25 de março: Dia Internacional da Solidariedade com os Detidos e Desaparecidos e Dia Internacional em Memória das Vítimas de Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Escravos; 30 anos da morte do arcebispo Marcel Lefebvre, fundador e líder do movimento católico integrista.
Estas datas convidam à releitura de alguns textos divulgados no Ciberdúvidas: «A origem da palavra meteorologia», «A diferença entre aluno e estudante», «A classe e a subclasse da palavra estudante», «Morrer de /com/por», «A origem da expressão «ouvidos de tísico»», «Sobre a palavra vítima», «Vítima não é só quem morre», «Acerca das palavras escravo e servo», «À volta da palavra (e do conceito) escravatura».