A situação apresentada é muito complexa e não reúne consenso na sua análise.
Assim, pode considerar-se que guloso é um nome (sendo um caso de adjetivo que se converteu em nome), pois é determinado por um artigo definido e é núcleo de um sintagma nominal que pode desempenhar, por exemplo, a função de sujeito numa frase:
(1) «O guloso do rato roubou o queijo.»
Nesta interpretação, o grupo preposicional «do rato» funciona como um modificador do nome. Esta é uma interpretação aceitável em contexto escolar não universitário.
Não obstante, há outras posições que consideram que, em construções desta natureza, não é claro que o adjetivo se tenha convertido em nome, o que se comprova pelo facto de a palavra continuar a denotar uma propriedade do nome que integra o grupo preposicional, como se verifica em (2):
(2) «O João é desonesto.» = «O desonesto do João…»
Na Gramática do Português considera-se que esta não é uma construção ligada à recategorização do adjetivo em nome, mas antes uma construção de natureza geral. O facto de o adjetivo ser acompanhado de um artigo definido é interpretado por aproximação ao espanhol: «Em espanhol, […] o artigo utilizado é o neutro lo, não o masculino el: cf. lo curioso (de la situación) es que Luis haya contestado así. Podemos então especular que um adjetivo pode ser especificado por um determinante neutro, e que no exemplo português ocorre esse determinante, e não o determinante masculino. Teríamos então de aceitar que o português, tal como o espanhol, possui um determinante definido neutro, o qual, no entanto, tem a mesma forma que o masculino.» (Veloso e Raposo, Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1476).
Esta última interpretação deve ser desenvolvida em contexto universitário atendendo à complexidade de questões que levanta e aos instrumentos de análise linguística que implica.
Disponha sempre!