Cumprimento-a, prezada consulente, como já fiz noutra ocasião, pois considero que não deve ser nada fácil para si ensinar uma variante diferente da sua língua materna. Cumprimento-a também pela humildade que revela e que só a engrandece.
Relativamente à fonética, há, efectivamente algumas, diferenças entre as duas variantes do português, que se manifestam, por exemplo, através de um número maior de vogais – entenda-se sons vocálicos ouvidos, ou pronunciados. Com efeito, em português europeu existem nove sons vocálicos distintos, sem contarmos com as vogais nasais (na totalidade um sistema vocálico de 14 elementos...). Concentremo-nos nas vogais não nasais. As vogais podem ser descritas tendo em conta
a) a posição, ou abertura dos lábios, e serão arredondadas como o u (se pronunciarmos ao espelho percebemos bem o que significa) ou não arredondadas.
b) o ponto de articulação mais à frente ou mais atrás e serão adiantadas ou recuadas.
c) com o maxilar inferior mais abaixo ou mais acima e serão baixas, médias ou altas. (Porque será que o médico quando nos quer ver a garganta nos pede para pronunciar um a? Porque não nos pede um u ou um i?)
não arredondadas | arredondadas | ||
Altas | i | ɨ (feliz) | u |
médias | e (Pedro) | ɐ (para) | o (ovo) |
baixas | ɜ (pedra) | a (carro) | ɔ (corre) |
adiantadas | Recuadas |
No português europeu, a maioria das vogais átonas eleva-se, ou seja, muda o seu traço de altura, referido em c). É assim que um –o final em vez de se ler [o] se lê [u]; um a átono se lê [ɐ] e não [a] e um e igualmente átono se não lê [e] nem [e], mas sim [ɨ]. Também o i átono tem tendência não a elevar-se, pois que já é alto, mas a recuar ligeiramente, pronunciando-se [ɨ]. Esta tendência é geral, mas há excepções. Uma das situações em que a vogal átona se mantém baixa é o caso de sílabas longas (terminadas em consoante, ou, se preferir, com coda expressa) terminadas em –l: al’madense; El’vira, ol’vidar, etc.
Para uma descrição mais completa e rigorosa aconselho-lhe a Gramática da Língua Portuguesa de Maria Helena Mira Mateus e outras, Lisboa, Editorial Caminho, 2005, parte VI. Poderá encomendá-la através da Internet.
Bom trabalho!