As duas possibilidades são aceitáveis, embora a opção pelo singular seja preferencial.
Na frase apresentada coloca-se, antes de mais, a questão de identificar o sujeito. Estamos perante uma frase copulativa que poderá ser apresentada na ordem canónica (SUJEITO + SER + PREDICATIVO DO SUJEITO) ou na ordem inversa (PREDICATIVO DO SUJEITO + SER + SUJEITO)1.
Para identificarmos o sujeito, podemos aplicar o teste do redobro do sujeito. Neste teste, o pronome retoma o sujeito da frase canónica:
(1) «A lida, o sonho, a morte e a alegria, elas são tudo o que se colhe na existência.»
(2) «?Tudo o que se colhe na existência, ele/isto é a lida, o sonho, a morte e a alegria.»
A estranheza da frase (2) indica que o sujeito da frase copulativa será «A lida, o sonho, a morte e a alegria», sendo o constituinte «tudo o que se colhe na existência» predicativo do sujeito. Neste caso, o normal seria que o verbo concordasse com o sujeito, que, incluindo uma enumeração, desencadeia uma concordância plural:
(3) «A lida, o sonho, a morte e a alegria são tudo o que se colhe na existência.»
Não obstante, o verbo ser poderá também surgir na 3.ª pessoa do singular, como se apresenta em (4):
(4) «A lida, o sonho, a morte e a alegria é tudo o que se colhe na existência.»
Esta opção é justificada por Cunha e Cintra: «Quando os sujeitos são resumidos por um pronome indefinido (como tudo, nada, ninguém), o verbo fica no singular, em concordância com esse pronome1»
Pelo que ficou exposto, a opção pelo singular será a preferencial.
Disponha sempre!
? assinala a estranheza da frase.
1. Para mais informações, cf. esta resposta.
2. Cunha e Cintra, Nova gramática do português contemporâneo. Ed. Sá da Costa, p. 507.