Comecemos por recordar que a posição dos constituintes numa frase copulativa identificadora1 pode ser canónica (sujeito + verbo ser + predicativo) ou inversa (predicativo + verbo ser + sujeito), pelo que a colocação de um constituinte na frase não é sinal de função.
Se atentarmos na frase em análise, verificamos que se trata de uma construção clivada, ou seja, uma construção que permite colocar em destaque um elemento da frase. A frase (1) é, portanto, uma construção clivada equivalente à frase simples (2):
(1) «O que não lhe falta são amigos.»
(2) «Amigos não lhe faltam.»
Na frase (1), o constituinte clivado é o sujeito da frase original, o constituinte «amigos».
Em construções clivadas como a que se apresenta em (1), considera-se que a oração relativa ocupa a posição de sujeito. Assim, o constituinte «o que não lhe falta» é o sujeito da frase, enquanto «amigos» desempenha a função de predicativo do sujeito. Tal como ficou dito no parágrafo inicial, esta frase admite duas ordens, a canónica, na qual se considera que estamos perante uma construção pseudoclivada e que corresponde à frase (1), ou a inversa, que corresponde à construção pseudoclivada invertida2, presente na frase (3):
(3) «Amigos são o que não lhe falta.»
Relativamente, por fim, à questão da concordância, tal como afirmam Martins e Lobo, «quando o constituinte clivado é o sujeito, o verbo ser concorda em pessoa e número com esse constituinte»3. As autoras ilustram este fenómeno com exemplos como os seguintes:
(4) «Quem partiu o vaso foram os rapazes.»
(5) «Quem partiu o vaso foste tu.»
Não obstante, sobretudo no caso da frase (3), muitos falantes aceitam a oscilação entre o singular e o plural, pelo que a frase (6) também é possível:
(6) «Amigos é o que não lhe falta.»
Disponha sempre!
1. As frases copulativas identificadoras caracterizam-se o predicativo ter a função de identificar o sujeito «como sendo portador da tal ou tal propriedade» (Raposo, Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1319).
2. Para mais informações sobre estas construções clivadas, cf. Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Ed. Caminho, pp. 687 – 694.
3. Cf. Martins e Lobo in Raposo et al., ibidem, p. 2646.