Se me é permitida a metáfora, este parece ser um dos terrenos mais pantanosos do domínio da sintaxe!
Há alguns critérios sintácticos que nos permitem identificar o sujeito e o predicativo do sujeito de uma frase.
Para a função de sujeito, temos a concordância com a flexão verbal e o teste da pronominalização nominativa.
Uma vez que em alguns casos é o predicativo que concorda com o verbo (ex.: «A vida não são rosas»), resta-nos o teste da pronominalização:
(1) «Ele foi o poeta da cidade.»
(2) «O poeta da cidade foi ele.»
(3) ?? «Cesário Verde foi ele.»
Os exemplos (1) e (2) provam que «Cesário Verde» é sempre o sujeito da frase, qualquer que seja a sua posição na frase — pré ou pós-verbal.
A frase 3 é gramatical apenas do ponto de vista pragmático, quando em situação de comunicação fazemos referência a alguém. Porém, do ponto de vista sintáctico, a frase não é gramatical, pois o pronome pessoal ele não substitui a expressão nominal «o poeta da cidade».
Para a identificação do predicativo do sujeito, a Gramática da Língua Portuguesa (Editorial Caminho, 2003) propõe o seguinte critério sintáctico:
— Substituição do predicativo pelo pronome demonstrativo invariável -o. O predicativo do sujeito é a expressão que puder ser substituída por esse pronome.
(4) «A vida não são rosas, e o casamento também não o é.»
A expressão nominal «rosas» é, efectivamente, o predicativo do sujeito.
Aplicando este teste às frases que apresenta, verificamos que a expressão «o poeta da cidade» é o predicativo do sujeito:
(5) «Cesário Verde foi o poeta da cidade, e Bocage também o foi.»
(6) «O poeta da cidade foi Cesário Verde, e Bocage também o foi.»
Em qualquer das frases, o demonstrativo o substitui a expressão nominal «o poeta da cidade».
Em conclusão, o sujeito é: Cesário Verde, e o predicativo é «o poeta da cidade» independentemente das suas posições na frase.
Disponha sempre!