A frase copulativa apresentada é um caso de copulativa identificadora, que se caracteriza por «identifica[r] o indivíduo representado pelo sujeito como sendo o portador exclusivo da propriedade individual definida pelo SN predicativo.»1 As frases (1) e (2) são exemplo deste tipo de copulativas:
(1) «O João é o meu melhor amigo.»
(2) «Aquele senhor é o autor deste livro.»
Nas frases copulativas identificadoras, o predicativo do sujeito identifica o sujeito como sendo dotado de uma dada propriedade2. Assim em (1) identifica-se o João como tendo a propriedade de «ser meu amigo» e, em (2) identifica-se «aquele senhor» com a propriedade de «ser autor deste livro».
Ora, na frase apresentada pelo consulente, coloca-se um problema de referência. Visto que as copulativas identificadoras identificam o sujeito atribuindo-lhe uma propriedade, resta saber qual o sintagma nominal que se encontra na referência do leitor. Ou seja, até ao momento da identificação de quem se falou? De um assassino? Ou de um escriba? Só a resposta a esta questão permitirá encontrar a solução para a identificação das funções sintáticas dos constituintes, pois o predicativo do sujeito será a propriedade que se atribui à pessoa de que se fala («ele é o escriba» ou «ele é o assassino»).
Apelando ao nosso conhecimento do mundo, e sem outro contexto, diria que o mais expectável é que o grupo verbal «ser assassino» seja o constituinte predicativo, o que faria do «o escriba» sujeito e de «o assassino» predicativo do sujeito. No entanto, não dispomos de elementos que atestem a interpretação.
Convém ainda acrescentar que as orações copulativas poderão surgir na ordem canónica ou na ordem inversa, sem que tal altere a função sintática dos constituintes. Assim, em (3) e (4), as funções sintáticas não se alteram: «Nós» tem a função de sujeito e «os amigos do João» a função de predicativo do sujeito.
(3) «Nós somos os amigos do João.»
(4) «Os amigos do João somos nós»3
Note-se que a concordância identifica o sujeito em ambas as frases.
Disponha sempre!
1. Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1318.
2. Cf. Id., Ibid., p. 1319.
3. Frases apresentadas em id., ibid., p. 1320.