Comecemos a análise pela frase A:
A. «Há poucas semanas, encontrávamo-nos para celebrar o Natal. Entre as luzes do presépio, renovávamos os votos de esperança.»
O uso do pretérito imperfeito pode parecer estranho, mas é sinónimo de «estávamos a encontrar-nos para celebrar o Natal» e «estávamos a renovar os votos» e aqui é utilizado por uma questão de estilo. Este uso, quer da construção no imperfeito, quer a construção com o auxiliar no imperfeito, «indica uma situação em progresso, aspetualmente imperfectiva, não limitada temporalmente na sua parte final e localizada num intervalo temporal de extensão arbitrária» (Raposo, E., et al. Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, volume II, p. 1268). Ainda assim, o uso do pretérito perfeito (1) não seria errado, só não indicaria esta situação em progresso, mas sim uma situação terminada no tempo.
1) «Há poucas semanas, encontrámo-nos para celebrar o Natal. Entre as luzes do presépio, renovámos os votos de esperança.»
Relativamente à frase B, a situação é a mesma que no caso da frase A:
B. «Olhámos para o ano que se despedia [estava a despedir], e ansiávamos [estávamos a ansiar] pelo novo que receberíamos semanas depois».
Optar pelo pretérito perfeito é possível, na medida em que também podem indicar-se duas situações terminadas no tempo, sem a ideia de progresso/expansão:
2) «Olhámos para o ano que se despediu, e ansiámos pelo novo que receberíamos semanas depois.»
Por fim, quanto à última questão, o uso do pretérito mais-que-perfeito em lugar do uso do pretérito perfeito, importa referir que um dos usos do pretérito mais-que-perfeito ocorre quando se pretende indicar um facto passado anterior a outro também passado. Na segunda oração do exemplo B temos:
B. «Todos naquela noite reconheceram que o ano fora turbulento».
A noite em questão é, provavelmente, a última, ou umas das últimas, noites do ano, o que é antecipado pela primeira oração: «Olhámos para o ano que se despedia, e ansiávamos pelo novo que receberíamos semanas depois.» Ora, uma vez que se refere um ano que está a terminar, então, todos os acontecimentos que decorreram nesse ano são, de facto, anteriores àquela noite. Por isso, o uso do pretérito mais-que-perfeito está correto. Ainda assim, por se tratar de um ano que efetivamente ainda não findou, não seria incorreto o uso do pretérito perfeito, ficando:
3) «Olhámos para o ano que se despedia, e ansiávamos pelo novo que receberíamos semanas depois. Todos naquela noite reconheceram que o ano foi turbulento.»
Nota: A consulente é brasileira e, no português do Brasil, o verbo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito não é acentuado (no exemplo encontramos olhamos – leia-se olhámos), ao contrário do que se verifica em Portugal e nas outras variedades do português, em África e Timor-Leste.