As frases têm o valor assinalado pelo consulente, sendo que na primeira frase podemos ainda identificar, de forma cumulativa, o valor imperfetivo.
O valor aspetual gramatical imperfetivo está presente quando uma dada situação é perspetivada no seu decurso, sem que se delimitem o seu início ou o seu fim. Nesta perspetiva, ambas as frases, transcritas em (1) e (2), expressam este valor:
(1) «Ando a ler O ano da morte de Ricardo Reis.»
(2) «Os alunos, naquela tarde de chuva, contavam entusiasmados todo o dinheiro recolhido para a viagem de finalistas.»
O aspeto gramatical iterativo descreve uma situação que se repete num intervalo de tempo que, normalmente, é delimitado, sendo perspetivado como se se tratasse de um evento único. Note-se, porém, que nem sempre o limite final da situação é expresso na frase. Por essa razão, na frase apresentada em (1) identificamos igualmente o valor iterativo: a situação descrita como ler é apresentada como um evento único, o que se consegue pelo efeito do complexo verbal «ando a ler», que perspetiva um conjunto de repetições como um ato único. Bem sabemos do nosso conhecimento do mundo que não se lê um livro ininterruptamente durante 24 horas até chegar ao final, mas o que aqui se tem em consideração é a forma como a situação é apresentada na frase e não do modo como a ação foi desenvolvida por alguém. Na frase (1), não se delimita o fim da situação «ler O ano da morte de Ricardo Reis» (o que é compatível com o valor imperfetivo, como vimos), mas o nosso conhecimento do mundo diz-nos que ela terá um fim, sem que isso implique que se leia toda a obra.
Disponha sempre!