Analisando as frases, e pese a ambiguidade de alguns dos exemplos apresentados, optei pelas seguintes classificações para o pronome pessoal se:
Se reflexo: A acção expressa pelo verbo recai sobre o mesmo sujeito que a pratica. Este desempenha a função sintáctica de complemento directo. O sujeito pode ser reforçado com as expressões a si mesmo/próprio.
É o que acontece com a frase: «Ele se curou da gripe.»
Embora com características particulares, também se podem integrar neste grupo as frases:
«A menina se chamava Maria.»
(Em Portugal, a análise habitual é: «se» — complemento directo; «Maria» — predicativo do complemento directo.)
«Luís se baptizou aos dez anos.»
É óbvio que, nestes dois exemplos, a acção expressa pelo verbo não recai sobre o sujeito (nem Maria se chamava a si mesma, nem Luís se baptizou a si próprio), mas pode considerar-se que há «uma atitude de aceitação consciente do nome dado ou do batismo recebido», como podemos ler na Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, 37.ª edição, pág. 223. Este mesmo autor refere, em relação a estes dois verbos, a oscilação na classificação do pronome se (reflexo ou passivo), por parte de alguns estudiosos.
Se inerente: Este se faz parte integrante do verbo. A acção expressa pelo verbo não recai sobre o sujeito, mas também não existe um causador dessa acção. O se inerente não desempenha qualquer função sintáctica na frase.
Pertencem a este grupo as frases:
«O trem se movimentou com rapidez.»
«A situação se modificou num instante.»
«O vaso se partiu em dois.»
Se passivo: Normalmente, neste tipo de construção o sujeito vem à direita do verbo (ex: «vendem-se casas»), mas também pode ocorrer o se passivo com o sujeito anteposto ao verbo. O se passivo não tem outra função na frase a não ser a de apassivar o verbo.
Optei por esta classificação em relação à frase:
«Ela se operou do apêndice.» = «Ela foi operada do apêndice.»
Note-se que, em Portugal, a construção usada habitualmente é, de facto, a passiva analítica: «Ela foi operada ao apêndice.»
Nota: A colocação do pronome clítico nas frases apresentadas é típica da norma brasileira. Cf. Próclise, em Portugal e no Brasil