Encontra-se a definição de mordomo, no Dicionário Houaiss, para este caso, a aceção de «aquele que organiza e patrocina festas da igreja».
A Festa dos Tabuleiros é a versão mais recente da ancestral festa em honra do Espírito Santo, para a qual o mordomo era escolhido com o objetivo de organizar o acontecimento. Trazida a tradição até aos nossos dias, foi este ano eleita pela primeira vez uma mulher para desempenhar essa função. Os habitantes de Tomar rapidamente resolveram a questão linguística, fazendo o feminino da norma: mudando o o em a, isto é, mordoma.
Como temos em várias respostas e outros textos no Ciberdúvidas (Cf. Textos Relacionados, ao lado), na língua portuguesa há diversos outros casos de rápida adaptação, relacionadas sobretudo com cargos e profissões tradicionalmente desempenhadas por homens, em que o feminino se fez durante um tempo apenas com a mudança do artigo, deixando a nome no masculino. Exemplos: a primeiro-ministro, a juiz, a bombeiro, a carteiro, etc. Só mais tarde, depois de um certo tempo de uso linguístico, os femininos desses nomes entraram de pleno direito nos dicionários: a primeira-ministra, a juíza, a bombeira, a carteira, etc..
No caso da mordoma, o povo de Tomar não precisou desse tempo para adaptar rapidamente a norma ao uso. No primeiro ano em que uma mulher desempenha as funções de organizadora da festa, detém com ela o direito de ser a mordoma.
Existe, pelo menos, mais um caso do uso já mais antigo da palavra mordoma, também ligada às festas e romarias da igreja: «no Alto Minho, as mordomas são as moças encarregadas de recolher fundos para a realização da romaria ao santo padroeiro da sua terra.»l[Aqui]. É o caso, por exemplo, das mordomas das festas da Senhora da Agonia de Viana do Castelo.
Cf. O feminino de profissões + Género e Profissões: uma análise empírica para Portugal (dissertação de mestrado de Isabel Cristina dos Santos Furtado)