Na resposta em causa, apresentei a minha opinião e a oposta. Inácio Bicalho concorda com esta e discorda da minha – que está de acordo com respostas anteriores, nomeadamente de F.V. Peixoto da Fonseca (ver a resp. ant. Grau de doutora, mais uma vez).
Presumo que, dentro de alguns anos, quando mais mulheres exercerem mais cargos tradicionalmente reservados aos homens, esta concordância deixe de causar controvérsia.
Tal como diz, "Paulo e João são candidatos a (o cargo de) governador".
"Maria e Manuel candidatam-se ao cargo de governador", porque, havendo um sujeito feminino e outro masculino, a concordância se faz com o masculino, que tem aqui a função de uma espécie de género neutro.
Nenhum destes dois exemplos se me afigura controverso. Onde as opiniões se dividem é em orações como as seguintes: "Maria candidata-se a governadora", "Maria candidata-se ao cargo de governadora", "Maria concorre ao grau de doutora", etc. Defendo que, estejam ou não concluídas as eleições ou as provas, o que interessa é o cargo que ela se propõe exercer ou o grau a que se habilita. Se entendemos que ela poderá exercer o cargo de governadora ou poderá receber o grau de doutora, não vejo motivos para empregar outra concordância só porque ainda se não concluiu o processo.
Posso perceber, sim, que se diga: "Maria é governadora", isto é, "exerce o cargo de governador", ou "Maria é doutora", isto é, "tem o grau de doutor", porque o masculino, neste caso, funcionaria como neutro. Então, porque discordo? Muito simplesmente, porque este neutro, aplicado ao nome de um cargo exercido por uma mulher, exprime toda uma tradição machista. Exemplifiquemos: "Maria exerce o cargo de dona-de-casa". Segundo a teoria que contesto, dever-se-ia dizer: "Maria exerce o cargo de dono-de-casa." Ninguém diz assim, porque, até há pouco tempo, a nossa sociedade separava claramente os conceitos de dono da casa e dona-de-casa. O dono da casa podia ser homem ou mulher (a dona da casa), mas a dona-de-casa nunca era um homem.