« (...) Cada brasileiro é um poeta ou orador. Fica-se assombrado perante a facúndia, espontaneidade, humor, à-vontade com que arrancam um improviso festejando-nos ou de comentário a qualquer nonada.(...)»
No Rio de Janeiro, por modestos 88 reais, à volta de 17 euros, ganha-se uma ensinança de bem falar português em toda a sela. Na verdade, não é preciso cavalo, é em trem, bilhete de ida e volta. O curso obtém-se apanhando um trem no Cosme Velho rumo ao Corcovado. Os melhores alunos, para tirar maior proveito, sentam-se nas traseiras e à direita.
O comboiozinho sobe, o trajeto nem chega a quatro quilómetros, entra pela mata atlântica, fura a floresta da Tijuca – mas nada de emoções ainda, por favor. Como os melhores professores, o Trem do Corcovado só ensina o que tem para ensinar depois de conquistar a mais intensa atenção dos alunos.
Chegado momento, este ouve-se. E como se ouve! «Oh!» – um magnífico e unânime espanto, gutural ou agudo, exclamado ou em prece: «Oh!» Os da traseira, à direita, de testa encostada ao vidro, os outros aos saltos para não perder pitada da beleza.
O trem tinha chegado à Curva do Ó, anfiteatro universitário, português substantivo, sem rodriguinhos, curto, certeiro e belo. Melhor licenciatura, mestrado, doutoramento da nossa língua não há, do que aprender com o povo que inventou simplesmente: a Curva do Ó.
A causa do ó: entre a lagoa Rodrigo de Freitas, aos pés, até à longínqua curva horizontal do oceano, maravilhas. O cone do Pão de Açúcar, o bairro da Urca escondidinho, as praias sucessivas de Copacabana, Ipanema e Leblon, o morro dos Dois Irmãos, a ilha das Palmas e a Cagarra… A Curva do Ó é fugaz como todas as felicidades. Na volta, desta vez à esquerda, volta-se a declamar o poema: «Oh!»
Ó!, taí, a grandiosidade do Brasil pode dizer-se em palavras curtas ou mesmo só onomatopeias.
Da primeira ida e volta fica o deslumbramento. Para os viciados naquele momento, os que voltam e revoltam à viagem do trem, cariocas ou forasteiros fidelizados à mais bela cidade do mundo, para esses, fica o desafio de ignorar o panorama e tentar agarrar um pormenor.
O meu é de um dia conseguir, da Curva do Ó, ver a casa que foi de Rubem Braga. O maior cronista da língua portuguesa (cito o poeta Manuel Bandeira: «Rubem é sempre bom, mas quando não tem assunto, então é ótimo») viveu numa cobertura, último andar de edifício alto em praça de Ipanema.
Último andar transformado paraíso, um jardim suspenso com pitangueiras debicadas por sabiás e tudo à altura e distância de uma fisga na favela Cantagalo.
Lá do alto ele via, só podia ser de binóculos, uma viúva na praia, e contava-a, na crónica do dia seguinte. Até hoje, do trem do Corcovado, eu só consegui ver o morro do Cantagalo – não é artista quem quer.
Mas não me queixo, o essencial já tenho. Desde garoto, na década de 1950, ainda Rubem Braga não vivia naquela cobertura, já eu lia, de frente ao mar comum, em Luanda, as suas crónicas, então na revista Manchete.
Uma feminista e o Ó num livro infantil
Mas volto à Curva do Ó, à curva do Rio, porque me dei conta recentemente que igual fascínio teve Ana Castro Osório. Republicana e feminista portuguesa, ela foi dos pioneiros na nossa literatura infantil. E, há um século, em 1922, publicou Viagens Aventurosas de Felício e Felizarda ao Brasil.
Antes, o seu marido fora colocado cônsul de Portugal em São Paulo. Ali viveram, de 1911 a 1914, regressando ela a Lisboa quando ele faleceu de tuberculose. É comovente saber que o livrinho Viagens Aventurosas… bebe em recordações felizes de um casal, em visita ao Rio de Janeiro.
Numa página, Felício e Felizarda apanham o Trem do Corcovado, que já existia, e antecedeu o Cristo Redentor, só inaugurado em 1931, no cocuruto do monte. Mas lá em baixo o que se via já era um esplendor:
«O espanto, a admiração foi tão grande, que não sabiam o que haviam de dizer. – Oh, não há nada assim! Que a nossa terra nos perdoe – gritou o patriótico Felício, agitando o seu chapéu de palha de Panamá.»
Ana Castro Osório é um bocado palavrosa, é certo. Mas já lá está um «Oh» e talvez ainda não tivesse sido inventado, para ela copiar, como eu o faço, o jeito manso do carimbar, do dar nominho, do etiquetar brasileiro, como este achado linguístico – Curva do Ó.
Outros escritores portugueses rendidos
A ideia da influência da paisagem brasileira sobre a qualidade da linguagem é uma constante antiga dos viajantes portugueses. O reconhecimento de que o brasileiro, e especialmente o carioca, vive envolvido por uma tal força da Natureza que, para merecer o que vê à volta dele, o incita e obriga a melhorar o seu falar.
Trinta anos depois da evocação da nossa primeira musa do feminismo, um beirão de fala serrana reconheceu o mesmo. Publicando um conjunto de reportagens no jornal O Século, em 1952, Aquilino Ribeiro explicou:
«Cada brasileiro é um poeta ou orador. Fica-se assombrado perante a facúndia, espontaneidade, humor, à-vontade com que arrancam um improviso festejando-nos ou de comentário a qualquer nonada.
Donde lhes vem tal veia? Donde há de vir, da sua mocidade exuberante, e desta fuga edénica dos primeiros dias do Génesis que se respira ainda nesta terra.»
Os leitores da Mensagem e de Lisboa mais atentos terão reparado que parte desta citação a faço também, aqui ao lado, na banda desenhada onde, com o Nuno Saraiva, nos derretemos pelo Brasil.
Não é por falta de mais matéria e autores que me repito, mas porque não me perdoaria que um só leitor perdesse a beleza da tirada deste príncipe da nossa língua europeia em louvor de outros príncipes da língua longínqua e também tão nossa.
Ainda de Aquilino, e da mesma viagem que narrou para o matutino lisboeta, há 70 anos, o trecho seguinte:
«Na poesia, porém, o estro brasileiro bate todas as musas de Além-Atlântico. É maravilhoso como sabem realçar o que é poético e tornar poéticas as coisas mais prosaicas deste Mundo e do outro.
Toda a legião inúmera de poetas, à antiga, à Cesário Verde, à Pessoa, à Pascoaes, à João de Barros, ou simplesmente à brasileira, porque o Brasil tem a sua escola, trina que se queda a gente doido, boquiaberto ante as suas invenções como o frade milenário de Manuel Bernardes ante o seu passarinho.»
O nosso beirão, telúrico de granito, verga-se perante Bernardes, um frade português do tempo barroco, mas de sermões simples. O vernáculo de Aquilino Ribeiro fez é piscar de olho que podia ser a Carlos Drummond de Andrade, o do mais simples dos poemas:
«No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedrano meio do caminho tinha uma pedra…»
Escrito no fim da década de 1920, moderno e escandaloso de simplicidade, e que Aquilino não podia senão conhecer.
Já Camilo Castelo Branco, num daqueles seus livros para ganhar a vida e agora só se encontram em alfarrabistas, dá-se conta do humor que os brasileiros usam até nas coisas públicas e na facúndia, que é a arte da eloquência.
Em Mosaico e Silva de Curiosidades Históricas, Camilo lembra que uma viela vizinha à rua do Ouvidor, no centro histórico do Rio, se chamava oficialmente rua Soçocusarará, que não provinha da língua dos índios tupinambás. Vinha de um ilustre morador com tal chaga no assento, que todos perguntavam «se o seu cu sarará?».
Os escritores portugueses que demandavam, de passagem, o Brasil confirmavam que aquela terra já tinha moldado os portugueses que para lá foram viver.
Na antologia O Rio de Janeiro na Literatura Portuguesa, que organizou, o professor Jacinto Prado Coelho mostra que até António Feliciano de Castilho, em 1855, quase cego e durante um passeio noturno à volta de um lago, adivinhou «uma Natureza insólita e grandiosa», «um não-sei-quê tão descuidado, tão suave» que o inebriava.
Os testemunhos – diz Jacinto Prado Coelho, na antologia feita por ocasião de mais uma comemoração, a dos Anos do Rio de Janeiro, em 1965 – mostravam a ambivalência de sentimentos.
É saudade, porque «é Portugal e já não é Portugal»; mas, acrescenta, «sempre um objeto de admiração e amor».
O açoriano Vitorino Nemésio também foi à cata de si no Brasil e, arreigado que era à sua cultura de ilhéu, reparou noutra causa da transformação de si e da cativação dos outros: a mistura.
Numa igreja carioca, ele foi à missa. Era na Senhora da Glória do Outeiro, de torre sineira, com galo de cata-vento, paredes caiadas e emolduradas por granito, tudo tão minhoto ou dos arredores, mas num morro do centro antigo do Rio. E, lá, Nemésio viu grã-finas brancas, negras e mestiças das favelas, grávidas.
Pediam proteção à Imperatriz Leopoldina, mulher de D. Pedro I que, século e meio antes, de esperanças frequentava aquela igreja e até lá batizou a sua filha, por isso chamada Maria da Glória.
Exagerando um pouco, Nemésio diz que o nome dado à princesa foi «Maria da Glória do Outeiro». O facto é: no tempo de Nemésio, nas madrugadas solitárias do Rossio lisboeta, o pai, Pedro, do alto da estátua central, e a filha, Maria, num dos topos da praça, no pórtico dando nome ao teatro “Maria II”, conversariam sobre a devoção que tão longe deixaram?
E, já agora, como seriam as brincadeirinhas dos dois, pai e filha, pelo cruzamento bizarro, de ele, nascido em Queluz, ter sido o primeiro imperador europeu nas Américas, e ela, nascida no Rio, ter sido a primeira rainha americana na Europa?
Afinal, não foi só a Natureza pujante do novo país a causar exclamações de espanto. Também a História que se foi fazendo era extraordinária. Em qualquer jantar fastidioso, pode sempre relançar-se uma conversa: «Sabem que no Rossio, em Lisboa, se cruzam…« E se os comensais não forem todos pecos, haverá no remate da história um: «Oh!»
Cidade eufórica há 100 anos
Os viajantes portugueses que deixaram testemunhos sobre o Brasil eram, como a maioria dos citados na antologia de Prado Coelho, intelectuais a praticar notas de viagem.
Geralmente vinham com cultura assegurada e esta iluminava as notas – no século passado, além dos já citados, passaram por lá Júlio Dantas, António Ferro, Jaime Cortesão, Torga…
Um, porém, teve a sorte de lhe calhar narrar em direto um acontecimento histórico – Tomás Ribeiro Colaço, que irá depois terçar armas com Pessoa, por causa de uma crítica à Mensagem. Há um século exato, em junho de 1922, ele estava na baía da Guanabara a receber o hidroavião de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, na primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
A cidade em euforia e a baía prenhe de rebocadores, barcos à vela, chatas (uma delas chamava-se “Guerra Junqueiro”) e até paquetes de passageiros (um deles, o “Trás-os-Montes”)… Por uma vez, a Natureza deixava a primazia aos homens: nessa manhã, o teto baixo de nuvens escondia o cimo do Corcovado e o de todos os morros.
Ribeiro Colaço conseguiu um belo apontamento de reportagem. Assinalou que as salvas e o foguetório se adiantaram aos factos. Tinham confundido um teco-teco que surgiu no meio do nevoeiro da barra com o hidroavião dos heróis…
Mas, depois, Ribeiro Colaço, monárquico e sebastianista, deixa o texto resvalar para a ideologia, cita a “Raça” e a «volta do Encoberto» e acaba com: «– A Pátria é salva! A Pátria é salva! El-rei chegou…»
E foi isso que mandou para o jornal O Dia, em Lisboa. Eu teria preferido que ele tivesse descoberto na multidão, sei lá, uma garota de 13 aninhos, nascida em Marco de Canaveses e tão fluminense como o samba que estava a nascer no bairro do Estácio (por falar nisso, de Estácio de Sá, fundador da cidade) – Carmen Miranda, pois – e a pusesse a contar a jornada.
A bem-aventurança das crónicas… e da Porta dos Fundos
Trago o jornalismo à baila, porque nessa altura, no Brasil, já um género tinha despontado para bem-aventurança dos cafés da manhã: a crónica em jornais. José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Olavo Bilac e, sobretudo, João do Rio.
Palavras desengravatadas, feitas para usar, mas não de deitar fora, coloquiais, atentas à gente em volta – tão diferente do caminho que percorreria na santa terrinha, deixado em Portugal. João do Rio sentava-se na confeitaria Colombo e, só de reproduzir o que ouvia, era uma lição de cavalgar em toda a sela, perdoem-me se já usei a metáfora.
Tomás Vieira Colaço iria emigrar para o Brasil, onde morreu em 1965, a tempo de beber do melhor que se escreveu nos jornais em língua portuguesa. Em 1928, foi fundada a revista O Cruzeiro, precursora de uma tradição brasileira que se manteria por décadas – moderna, porque muito ilustrada, e muito moderna, porque de escrita ágil.
No primeiro número, há presença de portugueses: o diretor é Carlos Malheiro Dias e a capa é de Manuel Mora, o guarda-redes que foi da primeira equipa do Benfica e emigrou para o Brasil para uma notável carreira de ilustrador. Millôr Fernandes lembrava-se, era paquete na revista, de ter visto Gago Coutinho, num dos seus períodos de exílio, a trabalhar na redação de O Cruzeiro.
Pai do humorismo brasileiro, Millôr publicou durante uma década uma página semanal no Diário Popular, de Lisboa. Deixou um cheirinho do que era uma escrita desempoeirada. Pérolas. «Chato é o indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele»; «quando todo o mundo quer saber é porque ninguém tem nada com isso»…
Assinava Vão Gôgo e teve tanto êxito que na noite lisboeta abriu-se uma boîte Vão Gôgo. Um dia, entrevistei-o no restaurante do hotel Tivoli, ele ia a pagar e indignei-me: «Nem pensar! Se soubesse as frases que já lhe roubei…» E ele: «Ora, se eu pagasse um jantar por cada frase que roubei…»
Eu estava a ser sincero, mas a piada dele era melhor.
O preito lusitano nunca falhou à escrita brasileira. Um jornal de província, o Jornal do Fundão, publicava nos anos 60 as crónicas de Drummond de Andrade… Eu tinha o prazer de ler, no Diário de Notícias, Ruy Castro (é só o biógrafo de Carmen Miranda, de Nelson Rodrigues…) – agora no Expresso. Volta não volta, a editora Tinta da China insiste em cronistas brasileiros…
O fascínio explica-se.
Com Nelson Rodrigues, lê-lo é como se fossemos o amigo, ouvindo-o, sentado na mesma mesa do boteco. Ele até se engana no texto, volta atrás e dá-nos a ilusão de que somos mesmo compinchas.
Com os diálogos de Luis Fernando Verissimo (revisor, não ponha nenhum acento, ele nem essas peneiras tem) as conversas da vida são a vida tal como ela é.
E, recentemente, com os vídeos da Porta dos Fundos ficou demonstrado que, enfim, Gil Vicente encontrou sucessor. Ah, aquele auto pastoril, em que um homem e mulher jantam, enfastiados cada um para o seu lado, e ele pergunta «O que há de sobremesa?»
E ela, moçoila, desperta com tudo que ela gostaria de fazer sobre a mesa [o vídeo chama-se Sobre a Mesa, e não me peçam um desenho] e lança-se a uma peça de ourivesaria tão ereta como a Custódia de Belém: «O que eu quero, Mário Alberto é…»
Temos de ir muito atrás, o Brasil acabava de ser descoberto, ao tal Gil Vicente para nos darmos conta de como a língua pode ser tão excitante.
Inspiração botânica e o Tom Jobim
Sabemos agora, porquê os brasileiros falam tão melhor – bolas, basta comparar, chegando à Portela, o nordestino médio ala e meio analfabeto, falando, em contraste com o portador do microfone tuga, com mestrado de jornalismo. Eles falam assim por causa da vegetação luxuriante e da genética misturada. É bom saber, porque, aí, temos méritos a reclamar.
A família real portuguesa driblou Napoleão e prolongou Portugal partindo para casa: o Brasil. Chegou em 1808, ao Rio, olhou à volta, gostou e melhorou. Logo nesse ano, o príncipe regente D. João VI criou o Jardim Botânico ao lado da mata da Tijuca. Pronto, era interesseiro, era, por causa das mudas do chá preto, das amoreiras para os casulos do bicho-da-seda, da baunilha, da canela, do negócio, enfim, do imperialismo.
O que quiserem, mas a inteligência de plantar o jardim fez daquele lugar no meio da cidade, um lugar de saberes.
Quando a mata da Tijuca, pela urbanização galopante começou a desertificar-se, os sábios do Jardim Botânico souberam recuperá-la. E permitiram que continue a ser a maior mata dentro de uma metrópole – quais Bois de Boulogne, Central Park ou Hyde Park, jardinzitos urbanos!
Além, claro, de nos abrir a janela na Curva do Ó.
Esperem, há outra coisa, no Jardim Botânico do Rio faziam-se as mudas da Carludovica palmata, a palmeira bombonaça de onde se tirava a palha para os chapéus Panamá. No tempo em que o palácio do Catete governava o país e os senadores, reconhecidos pelo chapéu branco, serem obrigados a ter vergonha, porque deambulavam entre os concidadãos.
Agora, quem lhes vai pedir satisfação na lonjura e vastidão de Brasília? Essa culpa, irmãos brasileiros, não foi de João VI, que, afinal, via longe. Uma capital do império que é sempre o Brasil, monárquico ou republicano, não pode ser deixada nas mãos exclusivas de políticos e funcionários.
Mas isso é política, e a minha política com o Brasil é, tão-só, continuar imensamente grato. Por exemplo, pelo Jardim Botânico do Rio.
Que lições sucessivas: logo que inaugurado, o jardim recebeu uma palmeira imperial do oficial de Marinha português Luís Vieira da Silva. Ele trouxe-a das ilhas Maurícias, no Índico. Estranho, porque as palmeiras imperiais, Roystonea oleracea, são originárias das Antilhas. Explicação: umas mudas de ilhas francesas das Antilhas foram para um jardim de aclimatação na Guiana Francesa e, daí, para as ilhas Maurícias, então francesas.
Que ironia a História fez: fugida de Napoleão, a família real portuguesa foi para o Rio de Janeiro e, aí, uma das suas primeiras criações foi um Jardim Botânico. Lugar de sabedoria e beleza, criou uma imagem de marca mundial, única.
O leitor já ouviu falar das palmeiras imperiais da Guiana francesa? E as das Maurícias?… Pois, mas a Alameda das Palmeiras Imperiais do Jardim Botânico é famosa em todo o mundo– soberbas, altas de 40 metros, perfiladas em renques, todas descendentes da Palma Mater, que um raio, coisa de deuses, matou em 1972. Famosas por causa de um imperador francês, por causa dos portugueses terem feito do viajar o seu destino e por causa dos brasileiros terem sido abençoados pela beleza.
Acaso, esta última condição? Não, eles fazem por isso: sabem o que se abrigou agora no Jardim Botânico? O Instituto Tom Jobim.
Esse, o Jobim do dizer mansinho, que coisa linda, que coisa louca, diz-lhe numa prece que ela regresse, chega de saudade.
Chega de saudade coisa nenhuma, quero mais 200 anos de ti, Brasil, cheio de saudades, de chorinho, amor e admiração!
Crónica do jornalista português Ferreira Fernandes, publicada no jornal digital Mensagem de Lisboa, com a data de 7 de setembro de 2022. As ilustrações e respetivas legendas são as do original, com a devida vénia.