Trata-se de diferentes formas de adaptar legitimamente os topónimos em questão. O Brasil e Portugal são países que estão politicamente separados e, portanto, foi inevitável que essa realidade política tivesse repercussão em vários planos linguísticos, designadamente quando se tratava de fixar nomes estrangeiros que, até ao momento da separação, tinham pouca ou nenhuma tradição em português.
Contudo, não se pode aqui confirmar inteiramente as grandes tendências que o consulente propõe a respeito das duas variedades.
Com efeito, começando por Irã, esta é adaptação do francês Iran, que em Portugal passou a Irão, por razões que não são óbvias, mas poderão ir ao encontro do que o consulente classifica de tentativa de «um aportuguesamento maior, para talvez enfatizar o gênero do nome do país». Na verdade, sendo nome masculino («o Irã»), poderia parecer estranha a terminação -ã, geralmente identificada com o género feminino. Mas também pode ter ocorrido a analogia com os casos como Afeganistão, Indostão, que se referem a países ou territórios vizinhos do Estado assim chamado. São conjeturas que não se levam mais longe nesta resposta.
Sobre Listenstaine/Listenstaina, nota-se este nome tem tido certa instabilidade. Em Portugal, tem-se usado Liechtenstein, apesar de, pelo menos, desde 19402, se registar Listenstaina como forma vernácula. Mesmo assim, mais recentemente o Código de Redação do português para a União Europeia optou por Listenstaine, cuja sílaba final -ne em português soa quase como o -n final da forma alemã.
Quanto à forma Moscou, tida por francesismo, parece ter tido uso em Portugal, mas há décadas que se enraizou a forma Moscovo3.
1 Cf. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1940), da Academia das Ciências de Lisboa. No seu Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), Rebelo Gonçalves regista Irã como forma corrente no Brasil e Irão a forma usada em Portugal. J. P.Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (2003), filia Irão e Irã no francês Iran, adaptação do árabe e persa Irān, de Erān, que evoluiu de Aryânâm, autodenominação dos povos que falavam língua indo-iranianas, da família indo-europeia.
2 Cf. ibidem.
3 Assim se refere Rebelo Gonçalves a Moscou no seu Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), dando prioridade a Moscovo, embora remetendo esta forma para Moscóvia, «nome da antiga região de Moscovo e igualmente designação vernácula desta cidade». O português Vasco Botelho do Amaral, no Grande Dicionário de Dúvidas e Subtilezas do Idioma Português (1958), condena Moscou, o que sugere que esta forma teria alguma frequência em Portugal. Isto mesmo confirma Machado, op. cit.