1. Em Portugal, aproximam-se as eleições para a Assembleia da República, a terem lugar em 10 de março. A campanha eleitoral arranca em 25 de fevereiro, e neste contexto bem como no do rescaldo das eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Luís Montenegro, presidente do PSD, opinou que o partido Chega terá de se submeter «[a]o teste do algodão» quando for votado o programa de governo minoritário da coligação da Aliança Democrática nos Açores. É uma expressão curiosa, que encontra referência no Ciberdúvidas (ver "15 expressões saídas da publicidade que usamos vezes sem conta", do jornalista Tiago Tavares) e que tem origem em «o algodão não engana», frase publicitária que, em anúncios dos anos 90 do século passado, em Portugal, rematava a demonstração da eficácia de um produto de limpeza. Na verdade, a frase em português era a tradução de outra em espanhol – «el algodón no engaña» – que se tornou popular em 1984, com a publicidade de um produto de limpeza semelhante, vendido em Espanha. Na Internet, é possível recolher vários exemplos quer de «teste do algodão» quer de «o algodão não engana», que, em transposição metafórica, significará «momento decisivo ou crítico, que conduz a uma clarificação». Trata-se, portanto, de mais um caso da linguagem publicitária como fonte de renovação fraseológica no português.
Sobre o contributo da publicidade para o aparecimento de novos usos idiomáticos em Portugal, leia-se "Publicidade e expressões idiomáticas". Na imagem, o mordomo que no anúncio de 1984 da campanha publicitária espanhola fazia o «teste do algodão» depois de aplicado o detergente Tenn, um produto da Henkel.
2. O uso do nome lagarto como alcunha de sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal motiva uma das sete novas perguntas do Consultório. Outros tópicos: as orações gerundivas; o significado sexual de solicitar; o arcaísmo trato; a sinonímia de âncora com pivô; os significados de predisposição; e a pronúncia regional -om ("coraçom", em vez de coração).
3. Na sequência da entrevista "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024), feita a três alunos do Iscte pelo Ciberdúvidas, a consultora Inês Gama apresenta na rubrica Ensino uma reflexão sobre o ensino e aprendizagem do português como língua materna.
4. Embora não, como advérbio, seja palavra invariável, há situações em que ocorre como nome e, variando em número, pode ter o plural nãos. Este é o tema abordado pela linguista Carla Marques num apontamento disponível em O Nosso Idioma. Na mesma rubrica, a consultora Sara Mourato dá conta da importância os nomes epicenos nas denominações não científicas dos animais
5. Na Montra de Livros, a professora Arlinda Mártires apresenta o livro Sem Dúvidas a Português, da autoria da também docente de Português Lúcia Vaz Pedro, que «veicula o conhecimento explícito da língua, através de uma linguagem acessível, ilustrada com exemplos pertinentes».
6. Léopold Sédar Senghor (1906-2001), que se notabilizou como poeta, político e presidente da república do Senegal, teve um papel fundamental na implantação do ensino do português no seu país. Em Diversidades, a linguista e professora universitária Margarita Correia refere-se à ação de Senghor num artigo transcrito com a devida vénia do Diário de Notícias (12/02/2024).
7. Duas curiosidades linguísticas, retiradas do muito que escreve na Internet sobre usos e regras do português:
– A abreviatura app, que em Portugal subentende o nome feminino aplicação, levando, portanto, a dizer-se «a app», enquanto no Brasil se usa «o app», porque se emprega o sinónimo aplicativo, do género masculino [cf. Quora (2021), Infopédia e Michaelis). É abreviatura inglesa (de application software), pelo que se recomenda a grafia em itálico.
– A explicação da expressão «fechar-se em copas» pelo jornalista Sérgio Rodrigues na sua rubrica "Sobre Palavras", da revista brasileira Veja (19/03/2021).
8. Registo de eventos e iniciativas com interesse para a promoção da língua portuguesa:
– A chamada de artigos para o número de outono da revista do Conselho Nacional das Línguas Vulgarmente Menos Ensinadas, em inglês, Council of Less Commonly Taught Languages, entidade que desenvolve a sua atividade nos EUA. O prazo para o envio de propostas termina em 01/06/2024.
– A 10.ª edição do Festival Cultural Convergências Portugal-Galiza, que decorre entre 3 de fevereiro e 9 de março, com um programa de atividades diversificado e repartido por Braga, em Portugal, e, na Galiza, por Padrón, Ponteareas, A Estrada e Santiago de Compostela.
– A 25.ª edição do encontro de escritores de expressão ibérica Correntes d'Escritas, festival literário que se realiza na Póvoa do Varzim, de 17 a 25 de fevereiro – neste ano com o tema da liberdade, assinalando os 50 anos do 25 de Abril, .
9. Temas dos programas de português na rádio pública de Portugal:
– uma conversa com Joana Simões Piedade, coautora com Sofia Lopes da obra Migrações e Interculturalidades: Conhecer para intervir em Sala de Aula. Recursos Pedagógicos para Formadores/Professores, no programa Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 16/02/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*);
– no Páginas de Português (Antena 2, domingo, 18/02/2024, 12h30*; repetido em 24/02/2024, 15h30*), incluem-se uma entrevista com o linguista Gilvan Muller de Oliveira, sobre a cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (Universidade Federal de Santa Catarina), e um apontamento da professora Carla Marques sobre o plural de spa;
– em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2, as emissões de 19 a 23/02/2024 têm por tema a regulação, numa conversa com Abel Mateus, primeiro presidente da Autoridade da Concorrência (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*).
* Hora oficial de Portugal continental.