A diversidade na nomenclatura dos animais, de acordo com o seu género, na língua corrente é um fenómeno fascinante que revela a complexidade da linguagem. Ao examinarmos os nomes dos animais que conhecemos, percebemos que essa denominação pode variar de acordo com o sexo do animal.
Uma das formas mais simples de flexão de género é aquela em que o masculino termina em -o e o feminino em -a, i.e., substantivos terminados em -o que formam o feminino substituindo essa terminação por -a. Por exemplo, temos pato-pata, gato-gata, lobo-loba e porco-porca. Por outro lado, também existem os substantivos epicenos, que possuem apenas uma forma para ambos os sexos, como águia, baleia, borboleta, cobra, corvo, mosca, pulga e rouxinol. Nesses casos, quando é necessário distinguir o sexo, adiciona-se as palavras macho ou fêmea ao substantivo, como em a águia macho ou o rouxinol fêmea.
Porém, há animais cujos nomes masculinos e femininos são distintos, derivando de radicais diferentes, mas que facilmente reconhecemos. Por exemplo, temos boi/vaca, cavalo/égua e cão/cadela. Mas, se é verdade que muitos nos são familiares, é também verdade que há nomes de muitos animais que se enquadram neste último caso e que talvez desconheçamos.
De facto, se lêssemos num jornal que «O Jardim Zoológico de Lisboa adotou uma aliá», saberíamos de que animal se trata? Trata-se de uma elefanta (ou de um elefante fêmea, nome pelo qual estamos mais provavelmente familiarizados), mas que, por ser classificado como um asiaticismo do Sri Lanca, ou seja, de Ceilão, de acordo com o Dicionário Houaiss, dificilmente encontraríamos esta denominação em qualquer jornal de língua portuguesa. Este mesmo jornal atribui a aliá a seguinte etimologia:
«[Sebastião] Dalg[ado] refere que em cingalês há diversos nomes para elefante e que, em Sri Lanka, nenhuma fêmea tem presas e raros são os machos que os apresentam: "Os portugueses, que já conheciam na Índia o animal com dentes e lhe davam o nome europeu com o seu género próprio, ouvindo que os indígenas (no Ceilão) chamavam comummente 'aliya' ao seu paquiderme, entenderam que tal era a denominação específica de 'todo o elefante sem dente, quer seja macho quer fêmea'».
Curioso, não é? Temos, portanto, elefante, designação do macho, e temos elefanta, aliá ou elefante fêmea para designarmos a fêmea do elefante. Além deste, podemos enumerar outros exemplos, como o da lebre – sendo esta a forma mais comummente reconhecida –, cujo macho é lebrão, ou o do pardal, cujo feminino pode ser pardaleja, pardaloca, pardeja ou pardoca. Outros exemplos incluem o javali, com os femininos gironda, javalina ou tarimba; o tigre, com a tigresa; a perdiz, que possui o perdigão como forma masculina; e o grou, cujo feminino é grua1.
Estes exemplos ilustram a diversidade na nomenclatura dos animais, o que nos leva a refletir sobre a dificuldade que é determos conhecimento total da língua.
1 Todos os nomes de animais atestados no Dicionário Houaiss.