Não é fácil definir o momento em que uma alcunha é cunhada e por quem, e muitas vezes pode até não ser inteiramente clara a sua explicação, desde logo porque é raro existirem registos escritos ou orais que o demonstrem e expliquem cabalmente.
A alcunha de "lagartos" deve ter sido atribuída aos adeptos do Sporting Clube de Portugal provavelmente por adeptos do seu principal adversário, o Sport Lisboa e Benfica, à medida que a popularidade e a rivalidade entre os dois clubes aumentava, num qualquer momento algures entre os anos 30 e 50.
O Sporting tem como símbolo um leão rampante, ou seja, em pé, apoiado sobre as patas traseiras e com as patas dianteiras erguidas e as garras estendidas, simulando uma posição de ataque ou de defesa. O leão é representado de perfil e exibindo a língua. Simboliza a bravura, a força e a nobreza. O Sporting tem ainda como cor dominante o verde. Uma forma de apoucar e amesquinhar o clube seria reduzir o leão, animal majestoso e de grande porte, a um animal rastejante e de pequeno porte, e verde, como a cor do clube, o lagarto.
A razão pela qual esta alcunha surgiu prende-se, muito provavelmente, com o facto de as versões mais antigas do leão, constantes do emblema do clube, bordadas nos equipamentos, e até impressas ou estampadas, serem mais rudimentares do que as que hoje conhecemos. Nelas o leão, visto depreciativamente, podia-se assemelhar pela forma e cor a um lagarto. Os adversários assumiram-no, passaram a dizê-lo e assim ficou.
É facto também que, em 1951, no âmbito do plano financeiro das obras do anterior Estádio José Alvalade, o Sporting efetuou uma emissão de títulos de subscrição, reembolsáveis, destinados a sócios e adeptos, a fim de custear a sua construção. É sabido que o Estado, ontem como hoje, procura controlar a promoção de jogos de azar ou lotarias, e outras formas de angariar receitas, tais como subscrições públicas com uma componente de prémio, rifas e sorteios, mesmo que para fins beneficentes e altruístas, sendo comum, por restrições legais sobre a forma como os valores monetários podem ser expressos e/ou como estratégia de marketing, atribuir nomes específicos, em muitos casos com um cariz humorístico, aos valores monetários representados. Assim, em vez de denominar o valor em moeda, 10 escudos, utilizava-se um outro nome, no caso, e também com uma conotação satírica, foram os Lagartos. Os títulos custavam 10 Lagartos, ou seja, 10$00, e no final realizava-se um sorteio de um prémio de 1000$00, cinco de 300$00 e cinco de 200$00, dez de 50$00, cinquenta de 20$00 e mil de 10$00.
Assim que foi conhecida a subscrição, começou de imediato a correr a designação de Lagartos. O jornal do clube, então chamado boletim, nos seus números 95 e 97, acaba por propor, fazendo eco da vox populi, o nome de Lagartos, com a particularidade de o fazer entre aspas. E o clube, quando imprime os títulos, cavalga a onda e apesar de não grafar a designação de Lagartos faz imprimir engenhosamente em fundo, como uma espécie de marca de água, o desenho de um lagarto verde.
Esta assunção da designação de lagartos pelo Sporting foi, porém, algo pontual, que se esgotou naquele momento e fim, não havendo, pois, qualquer oficialização da alcunha, tanto que – que saibamos – nunca mais foi usada.
Em conclusão, a alcunha de "lagartos" aos sportinguistas não começou em 1951, mas antes – provavelmente até muito antes – pois nessa data ela já estava disseminada, e o clube não a oficializou, apenas utilizou, graficamente e de forma satírica, a figura de um lagarto na emissão dos títulos de subscrição pública para a construção do anterior Estádio.
Uma última nota para dizer que sendo depreciativa, por reduzir um leão a um lagarto, a designação é aceite com fair-play pela maioria dos sportinguistas, sendo entendida como um elemento natural da rivalidade clubística. Tem uma carga conotativa e depreciativa, claro, mas não é sentida ou percecionada como particularmente ofensiva pelos adeptos do clube. A prová-lo está, por exemplo, a existência de um restaurante em Campolide, reconhecidamente sportinguista e com uma vasta memorabilia do Sporting na parede, sobretudo camisolas, designado Tasquinha do Lagarto.