1. Entre notícias de agitação social e política, os media portugueses assinalam também uma efeméride: a comemoração em 7 de dezembro do centenário de Mário Soares (1924-2017), figura marcante da democratização desencadeada em Portugal pela revolução de 25 de Abril de 1974 e depois na consolidação do regime, como primeiro-ministro e, mais tarde, como presidente da República. O papel histórico de Soares na sociedade portuguesa encontra-se também documentado em termos e expressões de um passado recente: soarismo, como linha de pensamento e atuação política de Soares (cf. Infopédia); ou o lema «Soares é fixe», popularizado pela campanha para as eleições presidenciais de 1986. E vem a propósito lembrar que o apelido Soares tem configuração bastante frequente na história dos apelidos em Portugal. Com efeito, trata-se de um antigo patronímico que significava «filho de Soeiro», como se explica numa resposta de 1997, da autoria de José Neves Henriques. Os patronímicos eram nomes pessoais do período medieval galego-português, que se formavam geralmente com o sufixo -ez, comum a outras línguas ibero-românicas (leonês, castelhano) e se empregavam para indicar a filiação (ao que parece, só a do pai). Com o andar dos tempos, estes patronímicos tornaram-se apelidos, perdendo o significado e a função originais: além de Soares, há os casos de Fernandes, Rodrigues ou Henriques, e muitos outros, que literalmente significavam «(filho/a) de Fernando», «de Rodrigo» e «de Henrique», respetivamente. Sobre este tipo de apelidos e acerca dos nomes próprios de pessoa (antroponímia), consultem-se os seguintes conteúdos em arquivo: "A formação dos patronímicos", "Patronímicos, apelidos e genealogia", "Nome e apelido", "Origem do apelido Fernandes", "Significado do apelido Lopes", "Henriques", "A origem do nome Rodrigues", "Os apelidos Rodrigues e Roiz".
Ainda relativamente a este tema, mas já no plano dos primeiros nomes (tradicionalmente, «nomes de batismo»), refira-se que, em 2024, os nomes Maria e Francisco continuaram a ser os mais frequentes no registo de crianças em Portugal. Cf. "Maria e Francisco voltaram a ser 'reis' em 2024", Público, 05/12/204. Na imagem, capa da edição fac-similada de Antroponímia Portuguesa (1928), de Leite de Vasconcelos (1858-1941).
2. Em Montra de Livros, apresentam-se duas publicações:
– Estudos em variação linguística nas línguas românicas – 2, que reúne um conjunto de textos cujo objetivo principal é apresentar e discutir questões empíricas, metodológicas e teóricas do estudo da variação e mudança linguística.
– Queria? Já não quer?, livro em que o autor, o professor universitário, tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves, retoma o tema das ideias falsas sobre a origem e o uso de certas palavras e expressões do português.
3. Falando de mitos, em Portugal continental imagina-se por vezes que a maneira de falar característica dos açorianos se resume ao que se ouve na ilha de São Miguel. A realidade é que os Açores são um arquipélago de nove ilhas, com importante diversidade linguística. Em Diversidades, a consultora Sara Mourato revela como, na ilha Terceira, se detetam especificidades lexicais e fonéticas que reforçam a identidade local.
4. Como é possível que camafeu, que designava principalmente certo tipo de joia, também possa hoje significar «pessoa feia»? No Consultório, esta pergunta faz parte do conjunto de sete novas questões, que também abrangem problemas de sintaxe ("Viver + gerúndio", "Às vezes... outras vezes..."), semântica ("Ir sair"), léxico ("'Com base em' + siglas") e história da língua ("O arcaísmo empós", "A origem do verbo arremessar").
5. Quanto às rubricas em vídeo do Ciberdúvidas:
– No episódio 9 de "Ciberdúvidas Vai às Escolas", uma aluna da Escola Portuguesa de Díli pergunta: que tipos de complemento se associam ao verbo correr em «correr daqui para fora» e «correr os cem metros»?
– O Natal é o mote dos novos episódios de Ciberdúvidas Responde, e o episódio 12 diz respeito ao português do Brasil: qual é o plural de Papai Noel?
6. Registo de um anglicismo da atualidade: a expressão brain rot, livremente traduzida como «podridão cerebral» (por excesso de consumo de conteúdos digitais) e votada como palavra do ano de 2024 pelos lexicógrafos da Oxford University Press.
7. Nos programas que, na rádio pública de Portugal, têm a língua portuguesa por tema, são temas de relevo:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 06/12/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a linguista Sandra Duarte Tavares aborda o conceito de comunicação assertiva e a diferença entre o significado das palavras positividade e positivismo, ainda a origem do termo berbicacho e o sinónimo do termo do português de Angola mambo.
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 08/12/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 14/12/2024, às 15h30*), a professora da Universidade de Lisboa Margarita Correia concede uma entrevista sobre «Representações políticas e sociais nas definições lexicográficas – do Dicionário da Língua Portuguesa à Infopédia», comunicação que proferiu em 12/12/2024, em Genebra, no encontro A Língua que Abril nos Deu. Ainda o apontamento gramatical da consultora do Ciberdúvidas Inês Gama sobre as locuções «em vez de» e «ao invés de».
– Refere-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.