1. Comemora-se neste dia o centenário do nascimento de Eduardo Lourenço. Nascido em S. Pedro de Rio Seco (distrito da Guarda), em 23 de maio de 1923, Eduardo Lourenço de Faria foi, desde meados do século XX, figura marcante da escrita ensaística portuguesa. Emblemático do ambiente vivido em Portugal logo após o 25 de Abril de 1974 e o processo de descolonização, salienta-se, entre os livros que publicou, O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português (1978), onde o autor, sondando os mitos do Império, defendia que tinha chegado «a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá-longe a solução que, como no apólogo célebre, está enterrada no nosso exíguo quintal.» Objeto da sua reflexão foi também, por diversas vezes, a língua portuguesa pós-imperial, discussão que tem registo na rubrica Antologia, com o artigo que Eduardo Lourenço escreveu em 1992 para o Atlas da Língua Portuguesa na História e no Mundo (coordenado por António Luís Ferronha). São desse texto as seguintes linhas: «O derramamento, a expansão, a crioulização da nossa língua foram como a das nossas “conquistas”, obra intermitente de obreiros de acaso e ganância (da terra e do céu) mais do que premeditada “lusitanização” como nós imaginamos – porventura enganados – que terá sido a romanização do mundo antigo ou a francização e anglicização dos impérios francês e britânico.»
Fonte da imagem: Fundação Calouste Gulbenkian, 01/12/2020.
Cf. ‘Eduardo antes de ser Lourenço'
2. O que significa a palavra fé? O mesmo que confiança? No Consultório, além da diferença entre fé e confiança, esclarecem-se cinco novos tópicos, a saber, o uso do nome próprio Suez, um caso de modalidade deôntica, a forma de tratamento mecê, a conversão de sentir em nome comum e a ambiguidade de um sujeito subentendido.
3. Na Guiné-Bissau, tem difusão nacional o criol ou kriol, língua crioula com estatuto de língua materna e segunda entre grande parte da população. Na Montra de Livros, apresenta-se a obra Kriol Ten, um dicionário do crioulo guineense.
4. Ainda a respeito de Eduardo Lourenço, lê-se no artigo acima mencionado, na Antologia: «Não se pode dizer de língua alguma que ela é uma invenção do povo que a fala. O contrário seria mais exacto. É ela que nos inventa.» Nas Controvérsias, à volta de como a língua condiciona (ou não) o pensamento e a visão do mundo, partilha-se, com a devida vénia, a crítica que o escritor, ensaísta e professor universitário Onésimo Teotónio Almeida dirige à chamada hipótese Sapir-Whorf, num dos capítulos de A Obsessão da Portugalidade (2017).
Cf. «E um verso em branco à espera de futuro»
5. Ao encontro das críticas da escritora moçambicana Paulina Chiziane a certos dicionários (ler Notícias), a professora universitária e linguista Margarita Correia realça a capacidade que a lexicografia atual tem de se tornar isenta, evitando enviesamentos e preconceitos, em artigo de opinião publicado no Diário de Notícias em 22/05/2023 e transcrito em O Nosso idioma. Na mesma rubrica, inclui-se ainda um apontamento da professora Carla Marques sobre o que distingue a atividade de um gramático do trabalho de um linguista.
6. Retomando o grande tema da presente Abertura e em jeito de homenagem, fica, por último, a apresentação de um filme de 2018, homónimo da obra mais famosa do ensaísta português – O Labirinto da Saudade, obra de Miguel Gonçalves Mendes dedicada precisamente a Eduardo Lourenço e ao seu pensamento.