Gramáticos e linguistas são figuras que olham de forma diferente para a língua, desenvolvendo uma atividade que poderá não ser coincidente, pelo que não poderemos considerar que estamos perante termos sinónimos.
Costuma considerar-se que o primeiro gramático foi Dionísio de Trácio, autor da mais antiga gramática conhecida, publicada no século II antes de Cristo. Ao longo dos séculos, o gramático tem vindo a assumir-se como alguém que orienta os seus trabalhos para o que se considera um bom uso da língua, procurando, desta forma, descrever a norma com base sobretudo em textos escritos, muitos dos quais literários. Nesta linha, o gramático aponta os usos exemplares e considerará o que se afasta da norma como um erro ou, em alguns casos, como uma exceção à regra.
Já o linguista trabalha no âmbito de uma disciplina que se começou a autonomizar há cerca de dois séculos. Na sua atividade, o linguista considera todos os factos da língua, enquadrados na norma-padrão ou não, e interessa-se por eles numa perspetiva descritiva. Por esta razão, os linguistas consideram todos os textos, orais ou escritos, oriundos de todas as variantes da língua. Deste modo, um linguista pode considerar como facto característico da língua um uso que a gramática rejeite, pois o linguista descreve todas as variedades da língua, não se cingindo apenas à norma-padrão.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Carla Marques_Gramático_Linguista ]
Apontamento incluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 21 de maio de 2023.