1. Na rubrica O Nosso Idioma, divulga-se com a devida vénia um artigo do jornalista e escritor Luís Pedro Nunes, que, em tom irónico e jeito humorístico, parte da utilização de OK, sigla do inglês hoje quase universal. O autor aborda depois as diferenças que se notam entre gerações na escrita de mensagens de telemóvel. Uma característica imediatamente ressalta: a abundância de ícones usados neste tipo de interação, associada ao elevado número de empréstimos ingleses que veiculam vivências desta esfera de comunicação. São exemplos dry texter, que Luís Pedro Nunes traduz de forma sugestiva por «escrevinhador seco»; boss («chefe, patrão»); scroll («deslizar informação num ecrã»); smiley («símbolo ou ícone de ideia ou emoção» ); e o termo emoji, empréstimo do japonês que o inglês pôs em circulação. Trata-se de uma área exposta à hegemonia do inglês, que tem o prestígio da moda mas produz estragos noutras línguas. O português também sofre com a pressão anglicista, e, portanto, o Ciberdúvidas passa a dedicar este primeiro ponto da Abertura das sextas-feiras a soluções lexical ou estruturalmente vernáculas capazes de minorar a situação. Vem, pois, a propósito a palavra bullying, um bom caso para começar, já que se disponibilizam respostas e comentários anteriores acerca do seu equivalente em português. Como já se propôs nesta resposta, há várias opções, todas à espera de uso estável, entre elas, assédio e acosso. O desafio está lançado: para menos inglês, mais palavras e expressões em português.
A sugestões apresentadas ficam depois registadas também em vídeo, na rubrica Ciberdúvidas Responde, disponível no Youtube e nas redes sociais. Crédito da imagem: Centro Europeu para as Língua Vivas (ver ponto 6 desta Abertura).
2. A expressão literária manifesta-se sempre de acordo com a língua-padrão? Em Literatura, a consultora Inês Gama reflete sobre a forma como a literatura portuguesa tem desafiado as regras, através da subversão gramatical, da valorização dos regionalismos e da afirmação das vozes femininas.
3. Em Portugal, o discurso mediático ativou a palavra aura em dois contextos distintos: no futebol, para falar do treinador de futebol José Mourinho, e na política, para referir a classe dos professores. Nas Controvérsias, a consultora Sara Mourato reflete sobre as conotações das expressões «ter aura» e «perder aura» nesses contextos.
4. A forma ilimitude é palavra legítima em português? É, e o dicionário já a regista, lê-se numa das sete respostas que atualizam o Consultório. Outros tópicos comentados: os valores concessivo e condicional da preposição a quando introduz orações; o composto conta-poupança; a análise morfológica de disjuntivo, conjuntivo, adjunto e palavras conexas; a colocação do pronome átono numa locução verbal; alguns verbos que denotam ferimentos; e a grafia e a etimologia do topónimo Benlhevai (Bragança).
5. O estudo dos nomes de lugar (toponímia) é área igualmente explorada nas rubricas em vídeo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Em Ciberdúvidas Responde (episódio 42), revela-se a origem do nome da cidade de Coimbra. O tema é outro em O Ciberdúvidas Vai às Escolas (episódio 37), e pergunta-se: o que há de errado na frase «meti o sumário no caderno»?
6. A data de 26 de setembro é marcada pela celebração do Dia Europeu das Línguas (DEL), que em 2025 completa 24 anos desde que foi instituído com o objetivo de promover a consciência do valor da diversidade linguística e cultural da Europa. A Direção-Geral da Educação (Ministério da Educação, Ciência e Inovação) assinala a efeméride, convidando os estabelecimentos escolares a festejá-la, bem como sugere a consulta do portal do Centro Europeu para as Línguas Vivas (Conselho da Europa), em cujas páginas se encontra informação sobre várias iniciativas e eventos em 43 línguas, incluindo o português.
7. Outros registos:
– o romance Grande Sertão: Veredas, obra-prima de João Guimarães Rosa (1908-1967), foi traduzido para alemão por Berthold Zilly, que levou mais de 10 anos para levar a cabo este trabalho, tido como extremamente difícil dada a originalidade linguística do texto;
– termina no dia 3 de outubro p. f. o prazo para as inscrições na III Edição do Curso de Formação Especializada (CFE) do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, desta vez dedicado ao tema "Terminologia: Fundamentos, Métodos e Aplicações no Diálogo entre Disciplinas";
– mais um interessante e pertinente artigo do professor José Luís Landeira, incluído em 21/09/2025 no jornal Público, com o título "Brasil, Portugal e as gramáticas de língua portuguesa", do qual se citam as seguintes palavras, a respeito do debate sobre língua e gramática entre brasileiros e portugueses: «O descaso por esse nosso patrimônio comum [que é a língua] pode nascer de duas atitudes extremas: considerar que a norma gramatical nunca importa, independentemente do contexto, ou acreditar que apenas o português de Lisboa, mas apenas aquele que coincide com o que dita a gramática, é o correto. Ambos os caminhos empobrecem a realidade linguística e reforçam visões elitistas.»
7. Conteúdos de dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 26/09/2025, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a investigadora Sandra Duarte Tavares realça a importância do aperfeiçoamento das competência linguística entre os alunos e a professora Carla Marques comenta a locução «a par com» em frases como «Macau é, a par com Hong Kong, uma das regiões administrativas especiais da China»;
– em Páginas de Português (transmitido pela Antena 2, no domingo, 28/09/2025, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 22/02/2025, às 15h30*), convida-se João Pedro Aido, presidente da Associação de Professores de Português, para falar das provas ModA (Monitorização das Aprendizagens), realizadas este ano pela primeira vez em formato digital, no 4.º e 6.º anos do Ensino Básico, e inclui-se ainda um apontamento da professora Carla Marques sobre a escrita de uma expressão de agrado – «há fadista», «ah, fadista» ou «à fadista»?