Vernáculo vem do latim «vernaculu-», que quer dizer «escravo nascido em casa». Vernáculo significa «próprio do país a que pertence; pátrio; nacional». Em sentido figurado, este termo também quer dizer «genuíno; correcto; puro (falando-se de linguagem); que escreve ou fala sem mescla de estrangeirismos». Como substantivo, significa «a língua pátria, na sua pureza».
Vale a pena transcrever, da entrada «Vernáculo» do «Dicionário das Questões Vernáculas» (brasileiro) de Napoleão Mendes de Almeida, o seguinte:
«Os delinqüentes da língua portuguesa fazem do princípio histórico 'quem faz a língua é o povo' verdadeiro moto para justificar o desprezo do seu estudo, de sua gramática, de seu vocabulário, esquecidos de que a falta de escola é que ocasiona a transformação, a deterioração, o apodrecimento de uma língua. Cozinheiras, babás, engraxetes, trombadinhas, vagabundos, criminosos é que devem figurar, segundo esses derrotistas, como verdadeiros mestres da nossa sintaxe e legítimos conhecedores de nosso vocabulário.
«'A transformação é sinal de vida', dizem os defensores da rédea solta à comunicação, do arbitrarismo léxico e sintático da informação, os que jamais se dispuzeram a verificar programas de vernáculo de países ciosos de cultura e de brio cívico. (...)
«Com uma insistência constituída na maioria de incultos, a televisão, que em nossa terra vive de anúncios, não sai do baixo nível em que se encontra. Programas de nível elevado não têm assistência, e portanto não rendem, mas, ainda que não seja de nível elevado, um programa pode ser apresentado em linguagem de gente civilizada. A educação, a elevação cultural deve começar pelo zelo da linguagem, pelo respeito ao idioma. Agir de outra forma é incorrer num círculo vicioso que só a oficialização das estações de televisão poderá cortar. A patuscada da televisão tem sua base na falta de cultura do público, e cultura de povo nenhum existe que não esteja alicerçada no apreço ao vernáculo. Assim foi em todos os tempos, em todas as civilizações; assim é nos nossos dias nos países da vanguarda do progresso.
«Quarenta anos atrás, sob a presidência de Washington Luís, tivemos a proibição oficial do emprego de estrangeirismos em razões comerciais, em placas, em anúncios; não se alegue que os tempos mudaram, pois vemos no 'Time' de 19 de janeiro de 1976 a informação de que, na França, um novo esforço para eliminar os exemplos evidentes de degradação do vernáculo determinou - Lei n.º 751349 - a proibição do emprego de palavras estrangeiras em anúncios, em contratos comerciais, nos programas de televisão e de rádio e em outros veículos de propaganda. (...)»
Napoleão Mendes de Almeida refere-se, naturalmente, à realidade brasileira. Mas... e em Portugal?