O que pede é um bocado difícil, pois exigiria muitas buscas bibliográficas, incomportáveis com a índole deste programa. Contudo vou tentar dar-lhe alguns elementos acerca do assunto, que talvez lhe interessem.
Como sabe, metáfora é o fenómeno pelo qual uma palavra é empregada por semelhança real ou imaginária: os dentes do pente; pé da mesa; o fumo da glória; chegar (do lat. «plicare» = dobrar, que deu o francês «plier», que mantém o sentido latino), porque no fim da viagem se dobravam as velas do barco; serra, que no latim clássico era só a ferramenta do carpinteiro, passou no latim vulgar, no português, no espanhol e no catalão a indicar cadeia de montanhas, dada a semelhança das cristas com os dentes da ferramenta. Os tropos metafóricos têm largo uso literário, e muitas expressões metafóricas dão origem a mal-entendidos e por isso provocam o riso. Cf. Napoleão Mendes de Almeida, «Gramática Metódica da Língua Portuguesa», 11.ª edição, São Paulo, 1960, § 621, c).A metonímia é simples variante da sinédoque; são denominações essas de distinção tão subtil que autores há que dão como exemplo de metonímia aquilo mesmo que outros subordinam à sinédoque, e tratadistas há que mal mencionam essas denominações de tropos semânticos. Se na sinédoque se emprega o nome de uma coisa em lugar do nome de outra nela compreendida, na metonímia a palavra é empregada em lugar de outra que a sugere, ou seja, em vez de uma palavra emprega-se outra com a qual tenha qualquer relação por dependência de ideia: damasco = tecido de seda com flores, ou espécie de abrunho, ambos provenientes de Damasco (O nome de um lugar acaba por designar os seus produtos industriais ou naturais); louro, por «glória, prémio»; cãs, por «velhice»; Fulano é um bom garfo; perna, que era só a de porco, é hoje de todos os mamíferos e até de aves e insectos; rostro, que primitivamente indicava bico de ave, passou a designar o remate da proa e, posteriormente, sob a forma rosto, a face humana; insultar perdeu o sentido material de saltar sobre; desprezar significava, no seu étimo em latim clássico, «olhar de cima para baixo». Cf. idem, ibidem, b), resumindo e citando um trabalho meu intitulado «Introdução ao estudo da semântica», publicado há quase meio século no «Boletim da Sociedade de Língua Portuguesa».
Apoiado na magnífica edição d'Os Lusíadas do ilustre camonista Dr. Emanuel Paulo Ramos, cito um exemplo de metáfora lá colhido:
«Tomai as rédeas do Reino vosso;» (I, 15). O mesmo professor indica a seguinte bibliografia só para o português*: Dr.ª Clara C. Rocha, «Metáfora do Amor ou Amor-Metáfora no Soneto de Camões» (in «Cadernos de Literatura», N.º 5, 1980, Coimbra, pp. 46-56) e Prof. Manuel de Paiva Boléo, «A Metáfora na Língua Portuguesa Corrente». Um exemplo de metonímia n'Os Lusíadas é-nos igualmente fornecido pelo mesmo eminente Colega: «Cesse tudo o que a Musa antiga canta» (I, 3).
*Não transcrevo as restantes indicações de obras sobre a metáfora e a metonímia por serem trabalhos a estas dedicados na generalidade ou relativos a outras línguas.