Ambos estão certos, se a incidência da análise for em segmentos diferentes. Será uma anáfora se considerarmos a expressão «à barca, à barca...», que figura reiteradamente no Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. Como se sabe, a anáfora consiste na repetição de uma palavra ou expressão no início de uma frase ou numa dada posição de uma frase ou verso com o intuito de reforçar uma ideia.
Noutra perspetiva, se analisarmos a expressão «à barca da vida» (quadro dos Cavaleiros, no referido auto vicentino), poderemos considerar que se trata de uma metáfora, pois a vida e o seu desenvolvimento são equiparados a uma barca num rio ou mar. A vida flui como as águas do mar. A metáfora transporta palavras de outro campo lexical para um contexto que, a priori, do ponto de vista do significado, não lhe deveria pertencer, tendo uma comparação intrínseca sem a partícula como ou elementos gramaticais afins.